quarta-feira, 18 de abril de 2018

O RPG e o lúdico nas aulas de História


Por Thiago Oliveira

Não é de hoje que as escolas contemporâneas perceberam um certo descompasso entre o interesse do aluno e o que a escola oferece. Não é raro encontrar professores dizendo que antigamente os alunos eram mais interessados, liam mais, escreviam mais, etc. O mundo mudou e, com ele, nossos alunos. Eles não leem mais ou menos, escrevem mais ou menos, mas leem e se expressam de formas diferentes das que professores estão acostumados. Esse descompasso tem vários motivos e as escolas tentam suplantá-lo de várias maneiras. A aula expositiva parece  não mais fazer mais tanto sentido, e se procura diversas opções, muitas vezes pautadas na tecnologia. Fica claro que não há uma escolha correta universalmente, e a escola deve primar justamente pela diversidade de soluções. 

Esse descompasso também tem origem fora da escola. Diariamente, os alunos são bombardeados por informações e imagens de consumo instantâneo, enquanto o método de ensino exige uma atenção contínua que excede em duração e profundidade os estímulos com os quais eles estão habituados a se relacionar. Contribuindo para esse descompasso, os processos de avaliação acabam por protagonizar a vida escolar, ofuscando as demais atividades que integram a educação. A busca pelo conhecimento acaba, assim, por ser deixada de lado a partir do momento em que a maior preocupação de alunos e professores se destina à preparação das e para as provas. Nesse sentido, o lúdico tem um lugar essencial.

De acordo com Huizinga, o lúdico é pré-cultural, ou seja, não foi inventado pelo homem. Os bebês brincam antes de aprender qualquer tipo de linguagem, assim como os animais. Brincar é essencial e nossos colegas do Fundamental I sabem disso muito bem, porém, ao avançar os ciclos, parece-me que esquecemos disso. O jogo, processo mais complexo que a brincadeira, é fundamental no processo de ensino-aprendizagem contemporâneo. Com regras e objetivos claros é um aliado poderoso do professor. Ora, o RPG surge como uma alternativa viável dentro do panorama pedagógico a partir do momento em que possibilita que se trabalhe conteúdos escolares de forma multidisciplinar, de modo envolvente e divertido.

Mas, afinal, o que é o RPG? Em inglês, esta sigla significa Role-Playing Game, algo que podemos traduzir como Jogo de Interpretação de Papéis. Neste jogo, a imaginação é o tabuleiro e os personagens são as peças. O jogo acontece pela interação entre jogadores e narrador, em um sistema de estímulo-resposta no qual os personagens e o cenário se relacionam com o conhecimento. O cenário é criado pelo narrador, podendo ser inspirado no mundo real, já os personagens são desenvolvidos sob sua orientação. O grupo, então, tece coletivamente uma história. Neste contexto, “vencer” ou “perder” são conceitos suplantados pelo trabalho em grupo.

Iniciamos nesse semestre, com os alunos do 6º e do 7º anos, uma aventura de RPG; estão agora criando personagens e decidirão todas as ações e falas desses personagens em uma história narrada pelo professor. Os alunos do 6º ano deverão procurar uma ruína entre os rios Tigres e Eufrates e, somente se tiverem sucesso, conseguirão salvar a sua cidade do jugo implacável e tirânico de uma cidade maior, que deseja cobrar pesados impostos de seus camponeses. Os alunos do 7º ano investigarão um assassinato na região mineradora do Brasil colonial durante o século XVIII e descobrirão que o crime é muito mais complexo do que parece.


Vivendo essas histórias, os alunos conseguem compreender muito melhor a dimensão humana da história, conseguem vivenciar mais vividamente as relações de poder, trabalho e entre as classes sociais. Entendem melhor que os agentes históricos têm recursos limitados e as escolhas não podem ser completamente racionais, afinal, na equação da vida, as variáveis são muitas.

Um comentário:

  1. Que bacana aprender História de jeito divertido e ao mesmo tempo reflexivo! Parabéns!

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