quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A Música nos projetos trimestrais: preparando apresentações finais

Professor Paulo José Afonso Caldas

Preparar uma apresentação é mergulhar profundamente naquele material que se quer mostrar, é se tornar mais íntimo daquela música, daquele instrumento que vamos usar, de forma a conhecer detalhadamente o que vamos fazer. 

No Grupo 5, ao entrarmos no projeto “Animais dos Polos”, abordamos canções que fazem referência a alguns desses animais: “O Pinguim”, “A Foca” – (ambas da Arca de Noé, de Vinicius de Moraes), e “Urso polar” e “Foca”, musicadas pelo professor a partir de poemas do livro “Oba! Que frio”, de Lalau e Laura Beatriz. 


E não foram só com canções que abordamos o assunto. Fez parte da nossa prática neste trimestre um divertido exercício de movimento, interpretando alguns animais dos polos, ao som de exemplos da música orquestral de Camille Saint-Saëns (O Carnaval dos Animais) e Tchaikovsky (Suite Quebra-Nozes). Assim, a lebre, a coruja do ártico, a baleia, o urso, o pinguim e a foca tiveram seus movimentos interpretados pelos alunos, em interação com a música, que sempre trazia inspirações interessantes para a performance. Nesse exercício, o importante não é o ritmo ou a entoação, mas o que aquela música me inspira a expressar corporalmente quando eu finjo ser um bicho ou outro. Os resultados vão para além do divertido, gerando momentos de expressão muito interessantes.

Nossa prática, cantando e tocando os instrumentos, nos renderam resultados mais palpáveis. A entoação começa a ficar mais precisa, conseguimos agora entender um pouco mais quando cantamos a letra de forma mais falada ou quando entoamos as palavras em concordância uns com os outros. No final do trimestre até surgiu a ideia, por parte deles, de cantarem sozinhos, um de cada vez, enquanto os demais acompanhavam com os instrumentos.

A pulsação, ao acompanhar as canções com os instrumentos, ficou mais firme e, ao mesmo tempo, o som dos instrumentos mais equilibrado com o som da voz. 

No 1º ano ensaiamos uma canção referente ao projeto “Universo” que se chama “Para baixo ou para cima?”, da série de animação “O Show da Luna”, que fala do fenômeno da gravidade.  Alguns já conheciam, os demais aprenderam a letra, colocamos a canção num tom apropriado para os alunos cantarem, e todos cantaram lindamente. Ainda ensaiamos um rap feito pelas professoras que faz referência aos planetas do nosso Sistema Solar. A letra é mais longa, mas eles deram conta de decorar e cantaram com animação. 


No 3º ano, ao entrarmos no projeto “Grécia Antiga”, estudamos a canção “Os 12 trabalhos de Hércules”, de Zé Ramalho. A canção deixou a turma empolgada, pois já haviam ouvido falar do herói, ou lido a respeito dos 12 trabalhos realizados por ele. Gostaram ao ponto de decorarem a letra toda, cheia de referências, em pouquíssimo tempo. E a melodia desta tem muitos detalhes e uma extensão de notas incomum ao repertório estudado até então. Contudo, a canção não nos permite fazer grandes peripécias com o acompanhamento, que teve que ser bem simples. Isso permitiu que a turma pudesse cantar e tocar ao mesmo tempo, com mais tranquilidade.


No 4º ano, mergulhamos na música medieval, contribuindo para o projeto “Idade Média”.  Nas aulas, assistimos a vídeos que mostravam instrumentos musicais medievais. Fizemos relações de parentesco desses instrumentos com os instrumentos modernos que conhecemos. Assistimos, também, a vídeos de grupos tocando música medieval e grupos dançando.  

Em seguida, abordamos uma “cantiga de amigo” galaico-portuguesa do século XIII, contida em um dos poucos manuscritos galaico-portugueses que contém, além da letra, a parte musical registrada, e que é atribuída ao trovador galego Martim Codax: “Mandad’hei comigo”. Tivemos que ler uma tradução para compreendermos bem o que a letra dizia. E treinamos, sempre lendo a letra, usando um sotaque aportuguesado. 

A partir do momento em que a canção foi melhor apropriada pelos alunos, começamos a montar o arranjo de acompanhamento. Assim, tocamos a melodia com flautas, elaboramos a parte rítmica com percussões e violão. Cada um escolheu o que quis tocar. Alguns até optaram por só cantar. Outros engajaram-se em tocar o violão, que no caso usa um único acorde, fácil de ser tocado. A parte da flauta foi bem desafiadora, e exigiu das alunas que estudassem a música em casa também, o que deu um ótimo resultado.

Além da canção, estudamos também uma dança francesa chamada “Branle Pinagay”, que é dançada com um único passo básico, mas que permite diversas formações com o grupo: Dançar em roda, em fileiras, com cruzamentos, e por aí vai. Ao aprender o passo básico, fizemos nossa própria versão da dança e pusemo-nos a ensaiá-la. Tudo isso deu um baita trabalho à turma, que se saiu bastante bem na empreitada. E o repertório foi bem aceito. Gostaram de cantar, de tocar e de dançar.  

Esse estudo foi muito importante e dará bases para que os alunos compreendam um pouco mais das origens das músicas que compõem a nossa cultura musical. 


Nesse trimestre no 5º ano, que encerra nosso curso de música do Fund I, tivemos um desafio especial: cantar uma canção polifônica. Contribuindo para o projeto “Renascimento”, abordamos uma canção a três vozes, portuguesa, do século XVI, chamada “Na fomte está Lianor” (assim como está escrito no manuscrito). A letra descreve momentos em que Lianor sofre a ausência de seu amado. A letra também traz amostras de como se escrevia em português na época. Os alunos puderam observar uma foto do manuscrito e reparar em curiosidades da escrita, como, por exemplo, “olhando”, no manuscrito se vê “olhãdo”; e “fonte”, no manuscrito se vê “fomte”.

No arranjo das vozes dividimos o grupo em dois: um para a voz mais aguda e outro para a voz do meio. Eu acabei ficando com a voz mais grave. Os alunos não demoraram a aprender suas vozes. Porém, o grande desafio era cantar uma melodia enquanto se ouve outras duas. Ensaiamos muito, a princípio só com duas vozes. E, na medida em que ficaram mais seguros, comecei a colocar a terceira voz. Foram momentos muito especiais, pois eles gostaram da canção e do efeito da junção das vozes. E um fato me deixou muito feliz. Não só a mim, na verdade, mas à turma toda: Derik e Edu, que nunca se propunham a cantar na aula (só gostavam de tocar), começaram a cantar com os colegas – uma grande vitória dessa turma que é unida, companheira.  

Para não ficarmos só nas vozes, nesse momento revimos atividades antigas para mexer o corpo, explorar instrumentos e improvisarmos em grupo: “Siga o som” (reagindo com movimentos corporais a diferentes paramentos do som) e o “jogo de sobreposição de ritmos” (no qual os alunos combinam ritmos diferentes num processo de improvisação coletiva).

Por fim, ainda estudamos uma dança instrumental (termo que denomina uma música para dançar) francesa chamada “Branle de la torche”, com melodias tocadas na flauta e acompanhamento de percussões. A melodia da flauta é mais desafiadora e os alunos que optaram por tocá-la precisaram treinar em casa, o que permitiu a eles darem esse passo à frente no instrumento. 

Dessa forma, conseguimos um bom contato com esses dois gêneros de época, proporcionando uma vivência bacana na musica renascentista europeia (música que também influenciou nossa cultura).


Treinamos, acertamos, erramos, encontramos soluções, nos comunicamos para fazermos juntos. E aí, quando tudo está pronto, e chega a hora, acaba ficando para alguns (me incluo, é claro) aquele nervozinho que sentimos antes de nos apresentarmos. Isso acontece, pois sabemos de tudo o que pode dar certo e errado, e cada detalhe imperceptível para a plateia é gigante para nós, que estamos apresentando. 

Esse momento mágico faz parte da prática musical e coroa todo o nosso esforço e trabalho do ano.

2 comentários:

  1. Lindo trabalho, professor Paulo.
    Pude a música nos transportou para cada época, ampliando o conhecimento que pode ser sentido, vivido experimentado... Parabéns equipe do Hugo! Beijos

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  2. Parabéns Paulo, a música faz parte do coração de nossa família e saber que ela é tão importante no trabalho educacional do Hugo, nos deixa extremamente felizes! Boas festas para você e a toda equipe maravilhosa de educadores!

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