quarta-feira, 21 de junho de 2017

Reflexões, entrevistas e debates sobre os Direitos Humanos e a crise dos refugiados

Por Pedro Mancini, professor de Sociologia e de Atualidades e Política para o Ensino Médio

"A Liberdade guiando o povo" de Delacroix (1831)

A temática dos Direitos Humanos não é recente, sendo especialmente debatida, a nível internacional, após a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, no contexto do pós-guerra). O momento atual, porém, demanda uma atualização das discussões a esse respeito, pois, como apontado por vários organismos internacionais, vivemos um momento especialmente crítico na luta pela garantia de direitos fundamentais de todos os homens e mulheres: de acordo com relatório publicado pela Anistia Internacional, por exemplo, a atual crise mundial de refugiados é a pior desde a Segunda Grande Guerra – sendo que, apenas entre os anos de 2013 e 2015, 50 milhões de indivíduos ingressaram nessa categoria. Em outras palavras, desde o conflito mais sangrento da história humana não houve tantas pessoas fugindo de seu próprio país – não simplesmente para buscar uma vida melhor, mas por não terem escolha, correndo risco de morte caso permanecessem junto ao seu povo. Esse fato, por si só, aponta para a abrangência e profundidade da crise pela qual passa a luta pelos direitos humanos. 

Reconhecendo a importância de levantar debates, tanto a respeito dos direitos humanos em sua acepção mais abrangente, quanto especificamente sobre a difícil situação dos refugiados espalhados pelo mundo, o Colégio Hugo Sarmento tem envolvido os alunos em discussões consistentes sobre os assuntos em questão. Durante todo o primeiro trimestre, nas aulas de Atualidades e Política, os estudantes do Ensino Médio debruçaram-se sobre a carta da Declaração Universal, utilizando-a para identificar e analisar situações de graves violações aos direitos humanos no Brasil e no mundo (lembrando que a Anistia Internacional também se mostrou preocupada com um recente retrocesso na garantia desses direitos no país nos últimos anos). 

Munidos com informações básicas sobre as discussões em torno dos direitos básicos da Humanidade, os alunos foram divididos em grupos interclasses e participaram de debates específicos: relacionaram os direitos humanos à questão da segurança pública no país; discorreram sobre a violação de direitos de presidiários retidos em condições degradantes; e analisaram situações de violações cometidas por agentes de segurança brasileiros (em especial, por membros da Polícia Militar). Ao final do trimestre, cada grupo escolheu um subtema para se aprofundar, redigindo uma pesquisa sobre um tipo de violação observável no país e sobre os possíveis meios de combate a tais violações. Como destaque, tivemos grupos que analisaram violações a grávidas que optam por partos normais na rede pública de saúde, assim como grupos que escolheram pesquisar situações de violação dentro de presídios que vivenciaram, há alguns meses, conflitos entre facções, resultando em chacinas dentro de instituições que deveriam estar sob proteção direta e contínua do Estado. 

A partir destas estratégias pedagógicas, os alunos apropriam-se de fato sobre o assunto, desenvolvendo argumentações sólidas sobre a situação atual dos direitos humanos nos níveis nacional e internacional e envolvendo-se diretamente com situações práticas reais de desrespeito a esses direitos - com o desafio adicional de elaborarem, de modo autônomo, soluções reais para tais ocorrências.

O trimestre atual, por seu turno, foi dedicado a discussões sobre a condição vivida por refugiados, tanto no Brasil quanto no mundo, além de considerações sobre as legislações de direitos humanos especificamente voltadas para esses indivíduos (o que, por sua vez, levantou debates sobre o quanto, de fato, tal legislação é aplicada pelos governos que recebem os refugiados). 

Recebemos também vários convidados que têm nos ajudado a pensar sobre o tema sob diversos aspectos:
TALAL AL-TINAWI


  • Refugiado vindo da Síria, Talal é engenheiro mecânico. Muçulmano, faz questão de manter os costumes religiosos.
  • Chegou ao Brasil em 2013 com a esposa, uma filha e um filho. Hoje tem mais uma filha, nascida no Brasil.
  • Depois de tentar trabalhar como engenheiro, Talal abriu um restaurante.

   MARCELO HAYDU
       ANTONIO JOSÉ ACOSTA  CRESPO
  • Médico venezuelano, Antonio é pai da nossa aluna Ana Sofia do 4º ano. 
  • Eles chegaram ao Brasil neste ano, buscando condições melhores, saindo da situação política e econômica que se vive hoje na Venezuela.
  • Para poderem trabalhar aqui, a solução melhor para legalizar sua situação foi pedir entrada como refugiados.
  • Os alunos fizeram a entrevista em espanhol, acompanhados pela professora Paz.
Nas aulas de outras disciplinas (como filosofia, sociologia, história, geografia e português que também trabalharam o tema sob a ótica de seu arsenal teórico), essas discussões têm envolvido os alunos do colégio em uma temática social extremamente relevante e atual, estimulando-os a serem agentes de transformação de nossa realidade, instigando-os a desenvolver a empatia necessária para o envolvimento na melhoria real das condições de acolhimento a refugiados no Brasil.

2 comentários:

  1. Excelente post do professor Pedro, detalhando a igualmente excelente iniciativa do Hugo Sarmento visando a conscientização de seus alunos sobre tema tão atual e importante para todos nós.

    Juan Garrido, jornalista.

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  2. Muito interessante, professor Pedro! Muito importante os alunos discutirem sobre essas realidades.
    Parabéns pelo trabalho. Abraço do Marcos

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