quarta-feira, 17 de maio de 2017

Estimulando o espírito investigativo desde sempre: "O projeto brinquedos e brincadeiras indígenas no Grupo 5”

Por Vivian Gouvea


No Grupo 5, as crianças puderam conhecer e se aprofundar em um tema muito importante para a nossa identidade cultural: a maneira como os índios vivem. Todos ficaram encantados com o que descobriram e vivenciaram ao longo deste trimestre.

O tema escolhido propiciou o estudo que envolveu diversas áreas do conhecimento, entre elas as Ciências Sociais, a Linguagem e as Artes.

Iniciamos o trabalho fazendo um levantamento das brincadeiras preferidas do grupo e constatamos que a preferência era por aquelas que envolviam água (piscina e mar), faz de conta, dinossauros, carrinhos e bonecas. Além destas, apareceram outras: pega-pega, esconde-esconde, corrida, andar de patinete e bicicleta, brincadeiras mais complexas que demonstram seu interesse por desafios, típicos desta faixa etária.

Em seguida, perguntei se todas as crianças brincavam da mesma maneira. Disseram-me que não: “Em São Paulo não conseguimos brincar no mar porque não tem praia”. Então, pensamos também sobre as brincadeiras de outros tempos e para ilustrar retomamos a obra de Cândido Portinari. Observamos algumas de suas pinturas que retratam as brincadeiras da infância, já vistas em outro projeto quando ainda estavam no grupo 4, e apresentei outras ainda não apreciadas. 

Aproveitando o interesse e observando diversas imagens, perguntei: “Será que as crianças indígenas brincam como vocês?” Do que será que elas brincam? Como são os espaços que elas brincam? E as indagações foram as mais diversas: “Elas brincam de correr e de subir nas árvores”, “Também nadam nos rios”, “Brincam com bola de plantas”, “Na floresta tem mais espaço para brincar”, “Brincam com tabuleiro de folha marcando X ou O”.

Aos poucos, introduzi informações e vivenciamos um repertório muito gostoso de brincadeiras indígenas, sendo a prática lúdica a base das atividades realizadas. Brincar de peteca, corrida da tora, arranca mandioca, gavião e os passarinhos, corrida em um pé só, cama de gato, chicote queimado, dentre outras, proporcionou ao grupo uma experiência singular, aguçada por meio do exercício do faz de conta e da compreensão dos valores e atitudes de cada brincadeira. 

As pesquisas foram ampliadas e tive o cuidado de selecionar diversos materiais (objetos, fotos, livros, vídeos, lendas, e sites da internet como http://pibmirim.socioambiental.org, que retrata o mundo indígena para as crianças explorarem e entrarem em contato com a cultura. Além disso, recebemos boas contribuições de materiais das famílias, outro momento de troca bastante rico.

Procurei estimulá-las a apreciar, procurar informações, aprender e observar semelhanças e diferenças desse universo tão rico, que é próximo e distante ao mesmo tempo da nossa vivência. 


Pesquisamos sobre as pinturas corporais, que tanto encantaram o grupo, a maneira que os índios preparam as tintas com urucum, argila e jenipapo com o carvão. Produzimos tintas, apenas com água e urucum e fizemos pinturas tanto em papéis, como no corpo. 

Conhecemos um pouco do artesanato, a confecção de cestos, colares, pulseiras, instrumentos musicais, cocares e bonecos, conhecidos na língua indígena como “licocós” que são feitos de argila. 

Outra situação de enorme vibração e significativo para o grupo, foi a da leitura das lendas indígenas (Guaraná, Mandioca, Vitória Régia...). As crianças se interessaram bastante por esta proposta, todos os dias pediam para ouvir uma lenda nova e se atentavam aos detalhes . 


Também preparamos e saboreamos alguns alimentos típicos da cultura indígena o suco de guaraná, de açaí, mandioca cozida e tapioca. Além disso, as crianças sugeriram que fizéssemos bolo de milho e mandioca. Todas as receitas foram aprovadas por eles! 


Assistimos ao filme, “Tainá, a Origem”, a narrativa de uma índia que mora na Amazônia. Tive como objetivo oferecer a oportunidade de reflexão e comparação do modo de viver dos índios e dos nossos. Mais descobertas sobre o tema aconteceram após o filme, e nossas conversas em relação ao tema do projeto foram se ampliando: “Os índios moram nas florestas e lá tem muitos animais, deve ter uns mil e trinta, que é mais que mil!”. “Os índios comem açaí!”. “A Tainá canta para espantar o medo. “A Tainá é a menina mais corajosa que eu já vi!”

Muitas foram as observações levantadas espontaneamente; as crianças foram estimuladas a aprimorar capacidades comunicativas como a fluência para falar, perguntar, expor ideias, dúvidas e curiosidades, além de aprender a esperar, ouvir e respeitar a sua vez, podendo, desta forma, ampliar o vocabulário e aprender a valorizar o interesse de cada um com a troca e aprendizagem.  

Nas aulas de música, cantamos também algumas canções que fazem referência aos índios: “Indiozinhos”, “A canoa virou”, “Toque patoque” e “Tupi”. Em algumas aulas os alunos trouxeram maracás e outros instrumentos associados aos índios, que usamos para acompanhar essas canções. Construímos juntos um pau de chuva,  feito de um tubo comprido, palitos atravessados em espiral e miçangas. Fizemos um rodízio para que todos pudessem levar este instrumento sonoro para casa e compartilhar com os familiares.

Assim, por meio do projeto estimulamos e desenvolvemos a empatia. Este tema é revisitado em vários outros anos escolares, com propostas de reflexão e aprofundamento diversos, mas é aqui que tudo se inicia...

Um comentário:

  1. Coloco aqui uma sugestão de vídeo realizados por crianças indígenas Ikpeng sobre sue modo de viver. Essas são crianças do Xingu:
    Das Crianças Ikpeng para o mundo (Dublado) - YouTube
    https://www.youtube.com/watch?v=28r1cj0xwEs

    O documentário Waapa, de Renata Meireles, David Reek e Paula Mendonça estará passando na Cirande de Filmes, entre 24 e 28 de maio, no Itaú Cultural. Sobre o filme, de acordo com o site do evento:
    O documentário propõe um mergulho inédito na infância Yudja (Parque Indígena do Xingu/MT) e os cuidados que acompanham seu crescimento. O brincar, a vida comunitária e as influências de uma relação espiritual com a natureza são revelados como elementos que organizam o corpo-alma dessas crianças.

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