quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A Música nos projetos trimestrais: preparando apresentações finais

Professor Paulo José Afonso Caldas

Preparar uma apresentação é mergulhar profundamente naquele material que se quer mostrar, é se tornar mais íntimo daquela música, daquele instrumento que vamos usar, de forma a conhecer detalhadamente o que vamos fazer. 

No Grupo 5, ao entrarmos no projeto “Animais dos Polos”, abordamos canções que fazem referência a alguns desses animais: “O Pinguim”, “A Foca” – (ambas da Arca de Noé, de Vinicius de Moraes), e “Urso polar” e “Foca”, musicadas pelo professor a partir de poemas do livro “Oba! Que frio”, de Lalau e Laura Beatriz. 


E não foram só com canções que abordamos o assunto. Fez parte da nossa prática neste trimestre um divertido exercício de movimento, interpretando alguns animais dos polos, ao som de exemplos da música orquestral de Camille Saint-Saëns (O Carnaval dos Animais) e Tchaikovsky (Suite Quebra-Nozes). Assim, a lebre, a coruja do ártico, a baleia, o urso, o pinguim e a foca tiveram seus movimentos interpretados pelos alunos, em interação com a música, que sempre trazia inspirações interessantes para a performance. Nesse exercício, o importante não é o ritmo ou a entoação, mas o que aquela música me inspira a expressar corporalmente quando eu finjo ser um bicho ou outro. Os resultados vão para além do divertido, gerando momentos de expressão muito interessantes.

Nossa prática, cantando e tocando os instrumentos, nos renderam resultados mais palpáveis. A entoação começa a ficar mais precisa, conseguimos agora entender um pouco mais quando cantamos a letra de forma mais falada ou quando entoamos as palavras em concordância uns com os outros. No final do trimestre até surgiu a ideia, por parte deles, de cantarem sozinhos, um de cada vez, enquanto os demais acompanhavam com os instrumentos.

A pulsação, ao acompanhar as canções com os instrumentos, ficou mais firme e, ao mesmo tempo, o som dos instrumentos mais equilibrado com o som da voz. 

No 1º ano ensaiamos uma canção referente ao projeto “Universo” que se chama “Para baixo ou para cima?”, da série de animação “O Show da Luna”, que fala do fenômeno da gravidade.  Alguns já conheciam, os demais aprenderam a letra, colocamos a canção num tom apropriado para os alunos cantarem, e todos cantaram lindamente. Ainda ensaiamos um rap feito pelas professoras que faz referência aos planetas do nosso Sistema Solar. A letra é mais longa, mas eles deram conta de decorar e cantaram com animação. 


No 3º ano, ao entrarmos no projeto “Grécia Antiga”, estudamos a canção “Os 12 trabalhos de Hércules”, de Zé Ramalho. A canção deixou a turma empolgada, pois já haviam ouvido falar do herói, ou lido a respeito dos 12 trabalhos realizados por ele. Gostaram ao ponto de decorarem a letra toda, cheia de referências, em pouquíssimo tempo. E a melodia desta tem muitos detalhes e uma extensão de notas incomum ao repertório estudado até então. Contudo, a canção não nos permite fazer grandes peripécias com o acompanhamento, que teve que ser bem simples. Isso permitiu que a turma pudesse cantar e tocar ao mesmo tempo, com mais tranquilidade.


No 4º ano, mergulhamos na música medieval, contribuindo para o projeto “Idade Média”.  Nas aulas, assistimos a vídeos que mostravam instrumentos musicais medievais. Fizemos relações de parentesco desses instrumentos com os instrumentos modernos que conhecemos. Assistimos, também, a vídeos de grupos tocando música medieval e grupos dançando.  

Em seguida, abordamos uma “cantiga de amigo” galaico-portuguesa do século XIII, contida em um dos poucos manuscritos galaico-portugueses que contém, além da letra, a parte musical registrada, e que é atribuída ao trovador galego Martim Codax: “Mandad’hei comigo”. Tivemos que ler uma tradução para compreendermos bem o que a letra dizia. E treinamos, sempre lendo a letra, usando um sotaque aportuguesado. 

A partir do momento em que a canção foi melhor apropriada pelos alunos, começamos a montar o arranjo de acompanhamento. Assim, tocamos a melodia com flautas, elaboramos a parte rítmica com percussões e violão. Cada um escolheu o que quis tocar. Alguns até optaram por só cantar. Outros engajaram-se em tocar o violão, que no caso usa um único acorde, fácil de ser tocado. A parte da flauta foi bem desafiadora, e exigiu das alunas que estudassem a música em casa também, o que deu um ótimo resultado.

Além da canção, estudamos também uma dança francesa chamada “Branle Pinagay”, que é dançada com um único passo básico, mas que permite diversas formações com o grupo: Dançar em roda, em fileiras, com cruzamentos, e por aí vai. Ao aprender o passo básico, fizemos nossa própria versão da dança e pusemo-nos a ensaiá-la. Tudo isso deu um baita trabalho à turma, que se saiu bastante bem na empreitada. E o repertório foi bem aceito. Gostaram de cantar, de tocar e de dançar.  

Esse estudo foi muito importante e dará bases para que os alunos compreendam um pouco mais das origens das músicas que compõem a nossa cultura musical. 


Nesse trimestre no 5º ano, que encerra nosso curso de música do Fund I, tivemos um desafio especial: cantar uma canção polifônica. Contribuindo para o projeto “Renascimento”, abordamos uma canção a três vozes, portuguesa, do século XVI, chamada “Na fomte está Lianor” (assim como está escrito no manuscrito). A letra descreve momentos em que Lianor sofre a ausência de seu amado. A letra também traz amostras de como se escrevia em português na época. Os alunos puderam observar uma foto do manuscrito e reparar em curiosidades da escrita, como, por exemplo, “olhando”, no manuscrito se vê “olhãdo”; e “fonte”, no manuscrito se vê “fomte”.

No arranjo das vozes dividimos o grupo em dois: um para a voz mais aguda e outro para a voz do meio. Eu acabei ficando com a voz mais grave. Os alunos não demoraram a aprender suas vozes. Porém, o grande desafio era cantar uma melodia enquanto se ouve outras duas. Ensaiamos muito, a princípio só com duas vozes. E, na medida em que ficaram mais seguros, comecei a colocar a terceira voz. Foram momentos muito especiais, pois eles gostaram da canção e do efeito da junção das vozes. E um fato me deixou muito feliz. Não só a mim, na verdade, mas à turma toda: Derik e Edu, que nunca se propunham a cantar na aula (só gostavam de tocar), começaram a cantar com os colegas – uma grande vitória dessa turma que é unida, companheira.  

Para não ficarmos só nas vozes, nesse momento revimos atividades antigas para mexer o corpo, explorar instrumentos e improvisarmos em grupo: “Siga o som” (reagindo com movimentos corporais a diferentes paramentos do som) e o “jogo de sobreposição de ritmos” (no qual os alunos combinam ritmos diferentes num processo de improvisação coletiva).

Por fim, ainda estudamos uma dança instrumental (termo que denomina uma música para dançar) francesa chamada “Branle de la torche”, com melodias tocadas na flauta e acompanhamento de percussões. A melodia da flauta é mais desafiadora e os alunos que optaram por tocá-la precisaram treinar em casa, o que permitiu a eles darem esse passo à frente no instrumento. 

Dessa forma, conseguimos um bom contato com esses dois gêneros de época, proporcionando uma vivência bacana na musica renascentista europeia (música que também influenciou nossa cultura).


Treinamos, acertamos, erramos, encontramos soluções, nos comunicamos para fazermos juntos. E aí, quando tudo está pronto, e chega a hora, acaba ficando para alguns (me incluo, é claro) aquele nervozinho que sentimos antes de nos apresentarmos. Isso acontece, pois sabemos de tudo o que pode dar certo e errado, e cada detalhe imperceptível para a plateia é gigante para nós, que estamos apresentando. 

Esse momento mágico faz parte da prática musical e coroa todo o nosso esforço e trabalho do ano.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Capoeira: Educação e cultura por meio da arte, dança, jogo e luta

Por Diego Zaccardo Ventura

Contexto histórico

A capoeira surgiu no Brasil por volta do século XVII, quando o país ainda era colônia de Portugal, com a chegada dos negros que foram trazidos da África para trabalharem como escravos nas fazendas produtoras de açúcar (engenhos).

Grande parte desse escravos vinham da região de Angola, cujos nativos já praticavam muitas danças ao som de suas músicas.

Ao chegarem no Brasil, eles foram proibidos de praticar qualquer tipo de luta e viram na capoeira a chance de disfarçarem sua luta por meio do ritmo e dos movimentos de suas danças africanas. Além de essa ser uma forma de manter a sua cultura e aliviar o estresse do trabalho pesado a que eram submetidos, os escravos viram na capoeira uma forma de proteção contra a violência e repressão que sofriam pelos capitães do mato e os donos das fazendas.

A capoeira nas escolas

Mesmo após a abolição da escravatura no Brasil, a capoeira não era vista com bons olhos e a sua prática era proibida. Somente ao final do ano de 1972, após muitos esforços, a capoeira foi vinculada ao Comitê Olímpico Brasileiro e firmou-se como uma prática esportiva presente em escolas, clubes e academias.

Falando mais especificamente do universo infantil, por meio da capoeira as crianças se divertem, ganham saúde e manifestam seu lado esportivo.

Além do corpo, a capoeira ajuda as crianças a exercitar a mente, trabalhando suas habilidades físicas (resistência, flexibilidade, equilíbrio, coordenação, reflexo e capacidade cardiorrespiratória) e psicológicas (criatividade, atenção, autoconfiança, respeito, disciplina, autossuperação e autocontrole). 

Outro aspecto positivo da capoeira é que as crianças passam a ser mais disciplinadas, mais cooperativas e têm maior facilidade de integração em grupos sociais e maior senso de sociedade.

A capoeira no Colégio Hugo Sarmento

No início de 2017, recomeçamos as aulas com os alunos do Fundamental I e as atividades abordam todos os aspectos da capoeira:

  • Arte: a capoeira é considerada uma arte em razão de seu peso cultural e histórico.
  • Dança: na capoeira a musicalidade é muito explorada e todos os movimentos são realizados através da ginga e floreio, que assim como uma dança é um movimento coordenado e rítmico.
  • Jogo: o jogo da capoeira é praticado em duplas, em que cada praticante demonstra seu conhecimento e desenvolvimento sobre a atividade.
  • Luta: embora o jogo da capoeira não tenha como objetivo eleger um campeão, seus movimentos e golpes permitem habilidade e técnicas de defesa pessoal.

Para embalar o ritmo da roda da capoeira, em que os alunos jogam, nas aulas eles também aprendem toda a base da musicalidade e o toque dos instrumentos que são utilizados pelos capoeiristas na chamada “bateria”, como: berimbau, pandeiro, agogô, reco-reco e atabaque.

Principais atividades: golpes e movimentos acrobáticos aprendidos durante o ano, toque de instrumentos e materiais utilizados:

  • Golpes frontais: martelo, ponteira, bênção, chapa de frente, queixada de frente, meia lua de frente, entre outros.
  • Golpes giratórios: armada, meia lua de compasso, meia lua solta, parafuso, etc.
  • Técnicas e materiais utilizados: para aprender esses golpes, os alunos realizam os chutes por cima de cones, em aparadores ou tentando alcançar garrafas PET penduradas em uma corda.
  • Movimentos acrobáticos: au (popularmente conhecido como “estrelinha”), macaquinho, parada de cabeça, parada de dois apoios (bananeira), etc.
  • Técnicas e materiais utilizados: tatames, cordas, bola de Pilates e steps de madeira.
  • Toque de instrumentos e canto das músicas: os alunos, ao longo do ano, aprenderem a tocar berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco, incluindo algumas variedades de canto e toques que fazem parte da capoeira.

Galeria de fotos

Durante aula de movimentos acrobáticos, aluno realiza o movimento au (estrelinha) com o apoio de apenas uma das mãos.

Durante o 2º semestre, os alunos aprenderam e treinaram também o maculelê, que é uma dança guerreira que utiliza bastões e faz parte da cultura brasileira.

Durante a aula, aluno realiza o golpe au (estrelinha) com o apoio das duas mãos.

Em aula de movimentos acrobáticos, aluno realiza o movimento parada de 2 apoios (bananeira).

Roda de capoeira entre os alunos com canto e toque de instrumentos (berimbau, pandeiro e atabaque) na bateria.

Aluno realiza o movimento acrobático au batido, também conhecido como beija-flor.

Eventos

Batizado de Capoeira
O batizado é um dia de festa em que os novos capoeiristas participam pela primeira vez do jogo na roda de capoeira com professores, mestres e contra-mestres. São realizados batizados na entrega da 1ª corda ou para troca de cordões, conforme o aluno evolui na modalidade e amplia as suas habilidades, tanto para a realização de movimentos de maior dificuldade, no espírito cooperador do capoeirista e no aprendizado de cantos e toques de instrumentos e ritmos. 

É um momento especial em que o aluno batizado escolhe o seu padrinho, que é convidado a amarrar a sua corda ou o seu cordão, gerando consigo uma eterna lembrança daquele momento especial.

No final do 1º semestre de 2017, no dia 30 de junho, foi realizado o batizado de capoeira no Colégio Hugo Sarmento, em que os alunos ganharam sua 1ª corda de capoeira e puderam mostrar aos seus familiares e amigos um pouco das suas habilidades adquiridas com a modalidade.

Eventos Interescolares

Também neste ano, os alunos do Colégio Hugo Sarmento foram convidados a participar do Festival Intercolegial de Capoeira do Colégio Santa Cruz, realizado em 2 de setembro. Neste evento, eles tiveram a oportunidade de interagir com as crianças do colégio anfitrião e de outros colégios convidados. Nesse evento, os alunos participaram de 3 oficinas de capoeira e, ao final, receberam uma medalha.


Fontes
- Site Portal e Educação: https://www.portaleducacao.com.br/
- Revista Universo Capoeira: nº 5 – Ano 1 – outubro/novembro 1999

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O protagonismo como proposta

Por João Mendes de Almeida Jr

“Assim, a concepção contida na proposta de protagonismo juvenil deve ser entendida de forma abrangente, não podendo limitar-se à Educação escolar, mas incluindo outros aspectos que possam auxiliar os jovens no exercício da vida pública, como o desenvolvimento pessoal, profissional, as relações sociais e o trato com as questões do bem-comum". (Branca Brener, psicóloga e mestre em Serviço Social pela PUCSP) 

Todos os anos reunimos nossos professores, coordenadores e orientadores em um Simpósio Interno, trazendo um tema para debate e para a troca de experiências: entre os segmentos que compõem a escola, entre os profissionais da equipe e, algumas vezes, com especialistas de fora.

O tema comum a todos os segmentos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, nos permite criar uma unidade na atuação pedagógica, um corpo mais coeso de pensamento e um conhecimento mais sólido acerca das possibilidades de construção diária de nossa prática.

Neste último sábado, chegamos à oitava edição do Simpósio Interno, desta vez com o tema “O Protagonismo do aluno na escola”

O conceito do protagonismo na escola vem sendo construído ao longo dos últimos anos com a participação de educadores e pensadores de diversas partes do mundo e tem como peça chave o aluno como ponto central da prática educativa, contribuindo para a formação de jovens e adultos mais autônomos e comprometidos com seu aprendizado, com valores de solidariedade e respeito mais incorporados e que contribuam para a transformação social.  


O estímulo para o início dos debates foi o documentário “Nunca me sonharam”, o qual nos convida ao diálogo sobre a realidade do ensino médio nas escolas públicas do Brasil. Na voz de estudantes, gestores, professores e especialistas, o filme questiona: Como nós, enquanto sociedade, estamos cuidando e valorizando a qualidade da educação oferecida aos jovens na fase mais sensível e transformadora de suas vidas? Dirigido por Cacau Rhoden, o filme foi premiado em Los Angeles como o melhor documentário de 2017. 

O documentário é um tocante “apelo” para a mudança que a educação precisa para contemplar a infinidade de sonhos dos jovens que passam diariamente pelos bancos escolares.

Dividimos nossos professores em grupos, que continham elementos de todos os segmentos da nossa escola, para debaterem suas visões acerca das falas dos alunos, professores, gestores e especialistas de fora da educação apresentados no documentário.



Pudemos constatar que as dúvidas e angústias retratadas são, em certa medida e consideradas as enormes dificuldades mostradas, comuns às nossas como educadores e de nossos alunos, envoltos na enorme pressão que a adolescência traz.

Na busca deste protagonismo juvenil, a atuação dos professores em favor deste aluno e futuro cidadão autônomo, crítico e consciente deve começar bem cedo, desde a Educação Infantil, propiciando às crianças um encantamento pelo aprendizado, um significado para os conteúdos e a criação de vínculos afetivos que deem segurança e estímulo a cada um.

Para que isto seja possível é fundamental uma mudança na visão do papel dos alunos em que estes possam se enxergar como “fonte de iniciativa, fonte de liberdade e de compromisso”.

O Simpósio seguiu e, depois desta conversa, compartilhamos com toda a equipe dois projetos em andamento em nosso colégio que têm o Protagonismo como fundamentação.

O primeiro, desenvolvido pelo 4º ano do Ensino Fundamental, a que chamamos “Ensinando e Aprendendo”, tem como escopo a experiência compartilhada de saberes. Cada estudante prepara oficinas para ensinar aos seus colegas algo que ele saiba fazer, algo que ele conheça bem ou de que goste. Culinária, artesanato, esportes ou qualquer outro assunto podem entrar na atividade, lembrando que são crianças de nove anos de idade.

A escolha do tema, a preparação, o formato da oficina partem da iniciativa dos alunos e da autodescoberta e autoconhecimento naquilo de bom “que posso compartilhar com meus colegas”. Processos de avaliação e de autoavaliação estimulam e valorizam os trabalhos apresentados.

O segundo projeto, desenvolvido com os alunos do 9º ano, chamamos de “Sonhar a Escola”, trata de um momento marcante na vida dos adolescentes: a passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio.

O projeto em curso que envolve alunos, professores, coordenadores e tutores do Fundamental e Médio, pediu para os alunos, na onda das mudanças anunciadas pelo Governo Federal, uma proposta de um novo Ensino Médio que contemplasse seus sonhos de escola e futuro. O objetivo é expor ou mesmo identificar seus sonhos de uma “escola ideal”, uma “escola utópica”. 

Uma citação no documentário “Nunca me sonharam”, que recomendamos seja assistido junto com seus filhos, associa a educação a uma plantação de tamareiras que levam quase cem anos para dar os primeiros frutos. Quem planta, não vai colher as tâmaras. Esta “boa colheita” será feita pela transformação social com que todos sonhamos.

As construções deste protagonismo, desta autonomia e dos sonhos possíveis e impossíveis, estão no fundamento de nossa atuação pedagógica. O desafio diário que enfrentamos, de criar um ambiente de aprendizado significativo, do encantamento pelos saberes, na descoberta dos sentimentos dos conteúdos, de um aprendizado baseado em projetos com a participação efetiva dos alunos, só é possível com o envolvimento e em uma escola em constante inquietação e um olhar no futuro.


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Oficina de redação ENEM e vestibulares


Por Gizelia Mendes

Sou professora formada em Letras e com especialização em língua portuguesa e literatura. Sempre fui encantada pelas aulas de redação, mas em minha experiência, sentia que a redação do ENEM  e dos vestibulares ainda amedrontavam grande parte dos alunos e foi pensando em sanar essas dificuldades que nasceu a “Oficina de redação do ENEM e vestibulares”.

A ideia da oficina é desmistificar a tipologia dissertativo-argumentativa e mostrar aos alunos como é feita a correção de tais provas e ajustar a estrutura desse tipo de texto: como introduzir a redação, o que deve conter nessa introdução; como argumentar e montar a tese e como concluir a tese e ainda, no caso do ENEM, como encontrar a solução ideal para a intervenção, de acordo com a tese apresentada.


Há, ainda, um parâmetro das últimas edições da redação do ENEM, uma reflexão sobre os possíveis temas e indicações de livros, filmes, exposições e tudo o mais capaz de aumentar o repertório cultural do aluno. Sabe-se que escrevemos a partir das nossas vivências de mundo, então, é também durante a oficina que o aluno é exposto a novas nuances culturais.

No Colégio Hugo Sarmento, a oficina foi ministrada no segundo semestre deste ano, para os alunos da 3ª série, com o intuito de preparar os alunos para as redações de ENEM e vestibulares a que serão expostos nas próximas semanas.

Informei aos alunos sobre os temas das redações de anos anteriores:
2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil;
2015: A persistência da violência contra a mulher no Brasil;
2014: Publicidade infantil em questão no Brasil;
2013: Lei Seca no Brasil;
2012: Imigração no país;
2011: Viver em rede no século 21 - os limites entre o público e o privado.

Discutimos sobre possíveis temas para este ano:
* Os limites do humor;
* O aumento de jovens com depressão no Brasil;
* Preconceito linguístico;
* Esporte como mecanismo de inclusão de deficientes físicos;
* Discurso de ódio nas redes sociais;
* Arte urbana;
* O conceito da família no século XXI;
* Caminhos para o combate a homofobia no Brasil;
* Desafio da mobilidade urbana nas grandes cidades;
* Aumento da expectativa de vida: Um desafio para o Brasil.

Um dos temas propostos durante as aulas – O desafio da mobilidade urbana nas grandes cidades – foi o tema da redação da Anhembi Morumbi, como constataram dois alunos que participaram da prova no último mês.

No decorrer das aulas e das explicações, foi notório o avanço no desenvolvimento dos alunos e na qualidade de seus textos, além da participação nas rodas de discussão sobre assuntos da atualidade e indicações culturais.

Tenho certeza que os alunos saem do projeto com ampliação das experiências com textos dissertativo-argumentativos, maior desenvoltura na escrita, refinamento vocabular e repertório cultural mais extenso.


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Respiração x Emoções: Pare, respire e conte até 10


Por Claudia Cosceli
A respiração faz parte do sistema nervoso autônomo, algo que fazemos de maneira natural e espontânea, uma atitude involuntária que nos foi dada desde o nascimento e vai nos acompanhar até o final de nossas vidas.

Todos já passamos por experiências nas quais nossa respiração teve um papel decisivo, provando que ela tem total relação com o nosso estado emocional e físico.

Para trabalharmos essas questões, não percebemos que podemos usar nossa respiração. Se tornarmos a respiração consciente, podemos aumentar nosso bem estar e nos ajudar a enfrentar os contratempos de nossas oscilações de humor e sentimentos, controlando, assim, nossas emoções.

O trabalho de treino e consciência da respiração é muito usado nas aulas de Yoga; essa técnica é chamada de Pranayama (“Pran” significa força da vida e “ayama” significa expansão), já que trabalha questões de domínio intenso sobre tudo que envolve o ar dentro do corpo, trabalhando o oxigênio a fim de, com ele, efetuar as transformações químicas necessárias para que o sangue possa distribuir “nutrição” a todas as células. É duplamente voluntário e involuntário; se quisermos, podemos acelerar, retardar, parar e recomeçar o ritmo respiratório. Tudo isso se dá mediante treino e muita concentração.

O trabalho realizado com as crianças tem fundamental importância, já que estimula essa atenção com a respiração desde pequenos, trabalhando aspectos de observação das emoções, observando em qual momento usar as técnicas de respiração aprendidas em aula. Assim, vão adquirindo uma maturidade apurada do próprio corpo que se desenvolve ao longo da puberdade e da vida adulta.

Sabemos que a respiração está ligada diretamente às nossas emoções; percebemos que quando ficamos nervosos e ansiosos o primeiro sintoma é a da respiração ofegante e rápida. 

O treino constante nos ajuda até mesmo a perceber quando iniciamos um processo de alteração emocional, gerando, assim, uma percepção do evidente caos que a ansiedade causa e desencadeando uma respiração quase imediatamente após o início do problema.


A respiração correta é a nasal


O nariz é um filtro contra poeiras. Graças à ação bactericida de seu muco, ele nos livra de insidiosos invasores. É também um radiador natural que aquece o ar frio do inverno, antes de chegar aos pulmões.

Os inconvenientes da respiração bucal são de dupla natureza: físicos e prânicos. 

Os de ordem física começam com a insuficiente alimentação de ar nos pulmões. Os que respiram pela boca são permanentemente martirizados por uma asfixia parcial, além de serem mais sujeitos às infecções por germes do ar. 

A dificuldade de respirar pelo nariz começa quase sempre na infância, e é quando, por tal motivo, se forma o hábito de respirar pela boca.

Em uma pessoa sadia, a respiração se faz mais fortemente por uma narina do que pela outra, variando o lado de duas em duas horas. Durante duas horas, a narina direita funciona mais fracamente do que a esquerda, depois de duas horas, muda e então é a esquerda que mais trabalha. As pessoas que sofrem de nariz entupido de um dos lados gozam menos saúde do que os que respiram normalmente. Por isso deveriam aprender a conservar funcionando bem ambas as narinas.

Agora que expusemos o ônus de uma respiração defeituosa, estamos na obrigação de indicar técnicas yogues que a possam corrigir e curar.


Dicas para desentupir as narinas em casa:

1- Para desobstruir uma das narinas, coloque na axila, do lado oposto, um volume como o de um livro, ou o punho fechado. Dentro de minutos, o desentupimento se dará. É só ter um pouco de paciência. Logo que obtiver o que deseja, desfaça a pressão, se não, vai entupir a narina do mesmo lado. Se estiver na cama, é suficiente deitar-se sobre o lado desobstruído, para em poucos instantes livrar a narina que estava entupida. 

2-  A lavagem do nariz ou Jala-Net consiste em, através de um bule específico chamado Lota, fazer entrar água morna com sal por uma narina a sair pela outra, provocando a lavagem das narinas. A água deve ser fervida, com uma solução de 7% de sal de cozinha (melhor o sal bruto) e em temperatura tépida. Observe o posicionamento correto da cabeça, para que a água não vá para a garganta, mantenha a boca aberta e nesse caso a respiração é pela boca. (Contra indicado em casos de sinusite aguda).

3- Respiração do sopro rápido, consiste em soltar o ar por ambas as narinas de maneira rápida e rigorosa (como se fosse um espirro); quando expulsar o ar, pressione o abdômen. Dessa forma provocamos uma limpeza intensa nas narinas; dê preferência para a sua execução no vapor do banho (se possível, colocar 3 gotas de óleo essencial de eucalipto no chão do box). 


Vantagens da respiração consciente

O pranayama é, portanto, a maneira mais rápida de nos trazer de volta para o momento presente, normalizando as condições de calma e tranquilidade do nosso corpo físico. Mas, para além dos efeitos mais evidentes da respiração lenta e consciente, existem muitos outros benefícios a serem considerados, dentre eles, os de que a respiração consciente:

• Estimula o cérebro através da liberação de elementos químicos conhecidos como endorfinas, que combatem a depressão;
• ativa a glândula pituitária, à qual são atribuídos os elementos da intuição;
• reduz toxinas nos pulmões;
• promove a limpeza do sangue;
• energiza e aumenta a vitalidade;
• regula o equilíbrio do pH, o que contribui com o controle do stress.

 

 
Em resumo – respirar bem nos ajuda a ser uma pessoa mais relaxada e saudável.

Fontes:

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

PROJETO: SONHAR A ESCOLA

Por Marina Bulbow Gozzi

 “Como são os professores?”
 “Como são as aulas?”
 “É muito difícil?” 

 “Qual é o horário de entrada? E o de saída?”

“Por que os alunos saem mais tarde às quartas-feiras?”


“Espero ir bem, tirar boas notas, decidir a minha profissão, e melhorar  as coisas em que eu não sou bom...”


“Espero ser mais estudiosa e ler mais.”


“Eu espero melhorar minhas notas, fazer novos amigos e melhorar meu físico.”


Essas inquietações e outras tantas expectativas são muito comuns nessa fase em que os alunos do 9º ano se encontram: a passagem do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio. Embora sejam questões esperadas pela equipe de professores e gestores das escolas, é fundamental que sejam criadas situações para que elas possam ser socializadas. Desta forma, ao pensar em rituais de passagem, privilegiando o coletivo, temos a pretensão de amenizar ansiedades e propiciar uma transição mais equilibrada aos nossos alunos.

Os rituais ou ritos de passagem foram estudados, especialmente, por autores franceses. O primeiro a se ocupar do tema foi Van Gennep publicando, em 1906, o livro “Os Ritos de Passagem”, no qual divide esses momentos da vida em três grupos: ritos de separação (como a formatura ou o sepultamento), ritos de margem (como o período da gravidez ou do noivado) e os ritos de agregação (como o batismo, o casamento ou o primeiro dia de aula).

Os rituais de passagem nas escolas são acontecimentos que marcam as mudanças de ciclo e as diferentes fases de desenvolvimento educacional pelas quais, normalmente, todos os alunos acabam passando. São experiências importantes que devem ser vivenciadas intensamente e, para isso, precisam fazer sentido e oportunizar momentos de formação, transformando-as em significativas aprendizagens.

Assim, aqui em nosso colégio, nesse ritual destinado aos alunos do 9º ano, estamos trabalhando com o Projeto “Sonhar a Escola”, em que os alunos desenvolverão, em grupos, uma proposta para o Ensino Médio, partindo do estudo sobre a reformulação que está sendo discutida atualmente em âmbitos educacionais e políticos.


Como sabemos, o Governo Federal encaminhou ao Congresso Nacional, no dia 22 de setembro de 2016, a Medida Provisória (MP) 746/2016 para reestruturação do Ensino Médio. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), essa nova reformulação visa fornecer melhor qualidade aos estudos, flexibilidade para o aluno optar por disciplinas de sua preferência, como também prepará-lo e desenvolvê-lo de forma plena para o ingresso às faculdades e ao mercado de trabalho. 

O nosso projeto, organizado em diversas etapas, foi iniciado na primeira semana de outubro, com a participação dos alunos e alguns professores do Ensino Médio. Os alunos foram convidados a assistir ao documentário “Nunca me Sonharam”, uma iniciativa do Instituto Unibanco, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes. Após esse momento, compartilharam, primeiramente em agrupamentos mistos (alunos do 9º ano e do Ensino Médio), suas primeiras impressões e opiniões e, em seguida, por meio de um debate, puderam socializar as contribuições de cada grupo acerca da temática do filme: os desafios do presente, os sonhos e as expectativas para o futuro dos jovens brasileiros. 



Outra etapa deste trabalho foi a conversa com o tutor do Ensino Médio, o professor Pedro Mancini. Nesse encontro ele apresentou aos alunos do 9º ano a organização atual do Ensino Médio de nosso colégio. 

Novas etapas serão desenvolvidas e as ações estão voltadas a fim de garantir o protagonismo juvenil, a reflexão, a organização de opiniões e a formação da cidadania, marcas sempre presentes no projeto pedagógico do nosso colégio.

O fechamento desse projeto se dará com a apresentação das propostas elaboradas pelos grupos, no final do período letivo, em um evento que contará com a participação de pais e professores, possibilitando o desenvolvimento de um significativo e importante rito de separação que é a saída do Ensino Fundamental II. E, em igual importância, a certeza de que estamos trabalhando com outro importante rito, o de agregação ao Ensino Médio.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Orientação profissional: caminhos para o autoconhecimento

Por Paz Picos

- “60% dos jovens estão aprendendo profissões que vão deixar de existir.”
- “Cerca de 60% das pessoas vão mudar de carreira pelo menos duas vezes na vida.  E algumas delas nunca vão trabalhar na área em que se formarem.”
- “Top schools push pupils away from universities.”

As afirmações acima - a primeira tirada de um relatório australiano para a juventude, a segunda feita em palestra sobre profissões e futuro pela pesquisadora e publicitária Eliane El Badouy e a última do jornal inglês The Times - mostram a enorme dificuldade encontrada pelos jovens de hoje na escolha de seus futuros profissionais diante da multiplicidade de carreiras e trajetos de desenvolvimento possíveis.

Já há muito tempo sabemos que o brincar de professora, policial, engenheiro, bombeiro, é visto como natural e corriqueiro. Este faz de conta possibilita à criança a apropriação de mundo, a resolução de conflitos e a aprendizagem. A criança se aproxima do mundo adulto no faz de conta e representa papéis e profissionais que estão disponíveis na família, na escola ou, até mesmo, na mídia. É nesta fase que surge o primeiro contato com a resposta para a grande pergunta que os acompanhará até a escolha: o que eu quero ser?

Na adolescência, o tema mais importante e vital é o desenvolvimento do eu e da própria identidade, já que se começa a tecer o próprio relato, a própria história, interpretando experiências passadas e o seu aproveitamento para solucionar os desafios do presente e as perspectivas de futuro. Segundo Lisboa, a adolescência é a segunda fase mais importante em grau de transformações significativas que levará o ser a uma vida adulta.
É justamente nesta fase que está inserida a escolha da sua futura profissão. Uma das tarefas essenciais da adolescência no mundo atual.

O adolescente, em construção do “eu sou”, parte em busca do “eu serei”. Neste momento, a Orientação Profissional entra como parte do processo de autoconhecimento e de escolha. De acordo com Aide K.Wainberg, psicóloga brasileira, a Orientação Profissional não é um momento isolado, faz parte de um processo maior de construção da personalidade, porque a escolha é uma tarefa de quem vai seguir um caminho e, portanto, deixar para trás as outras possibilidades. Segundo Rodolfo Bohoslavsky, psicólogo argentino, “quem escolhe não está somente escolhendo uma carreira. Está escolhendo com o “que” trabalhar, está definido “para que” fazê-lo, está pensando num sentido para a sua vida, está escolhendo um “como”, delimitando um “quando” e “onde”, isto é, está escolhendo o inserir-se numa área específica da realidade ocupacional”.

A Orientação Profissional na escola é oferecida em grupo porque é próprio do adolescente o convívio em turmas. Em 2017 estamos realizando este trabalho já com o grupo da 1ª série do Ensino Médio, no momento em que o adolescente está buscando a sua identidade, fase em que é importante sentir-se igual aos outros e fazer parte das mesmas dúvidas e inseguranças em relação à escolha profissional. Cada participante é um facilitador porque a possibilidade de entender o outro permite o conhecimento do que cada um busca em si mesmo. Segundo J. Guichard, no seu livro “Psicologia da Orientação”, as práticas em OP devem assegurar o desenvolvimento humano como construção mútua: ao realizar sua própria identidade, contribui para que se construa a do outro.

Para fazer a escolha é importante que o adolescente saiba quais são as suas habilidades e potencialidades. É preciso saber quais competências precisará desenvolver, que saberes precisará dominar, além dos meramente técnicos, para atingir seus objetivos. 

Durante os nossos encontros em Orientação Profissional trabalhamos com dinâmicas para facilitar o autoconhecimento. Não é possível escolher uma profissão sem antes saber quais são os meus interesses, habilidades e motivações. Ao mesmo tempo, não há escolha sem saber o que há para escolher. Atualmente há um leque de aproximadamente 25 mil cursos em cerca de 200 carreiras. A pesquisa é fundamental neste processo. 

Conhecer uma profissão vai além de saber sua definição. Para realmente se apropriar deste conhecimento o aluno deve se encontrar com profissionais, entrar em contato com o dia a dia, saber qual o seu campo de atuação, como esta profissão se insere na sociedade e qual o estilo de vida desse profissional. Somente assim o adolescente poderá afastar a idealização da profissão e deixar de lado o faz de conta da infância.

Também é de suma importância visitar cursos, faculdades e universidades. O adolescente precisa conhecer onde vai passar os próximos 2, 4 ou 5 anos de sua vida. 

A universidade, faculdade ou técnico, assim como o curso, também precisam ser escolhidos. Não basta ser a melhor, tem de ser aquela onde o estudante se sinta confortável para trilhar o caminho rumo ao seu plano de vida. Como parte do processo de OP aqui no Hugo Sarmento, vistamos a 11ª Feira USP de Profissões, onde os alunos puderam entrar em contato com os vários cursos oferecidos por esta Universidade.

Entendemos que na 1ª série do Ensino Médio encontramos um bom espaço para esta discussão, pois não há pressa em escolher, mas existe a necessidade de trilhar este caminho ao longo dos anos do Ensino Médio e os seguintes. Também não há pressa em decidir, a toque de caixa, quem eu sou, mas há necessidade de tecer perspectivas futuras que proporcionarão, aos adolescentes, tranquilidade para caminhar rumo ao ser adulto. Não temos como objetivo concluir uma escolha, mas amadurecer a responsabilidade da construção do seu próprio futuro porque, assim como disse Jorge Castellá Sarriera, psicólogo espanhol radicado no Brasil: “Busca-se, finalmente, fornecer subsídios para que o jovem seja agente de conhecimento, interação e controle em seu contexto, reconhecendo seu papel ativo na construção de um meio eficaz para o desenvolvimento humano integral." 

Quando a escolha acontecer, fruto da implementação de um conceito de si mesmo e que esta escolha puder conceder ao jovem uma identidade social significativa, cabe a nós, escola e família, orientá-lo a concretizá-la e apoiá-la. E se não der certo, ajudar a começar tudo de novo.

Para saber mais...

https://conteudo.startse.com.br/mundo/lucas-bicudo/60-dos-jovens-estao-aprendendo-profissoes-que-vao-deixar-de-existir/

http://educacao.estadao.com.br/blogs/oficina-do-estudante/especialista-revela-como-sera-a-profissao-do-futuro/

https://www.thetimes.co.uk/article/top-schools-push-pupils-away-from-universities-wellington-college-sedbergh-school-queen-ethelburga-s-college-stamford-school-lincolnshire-l7rvg3czd

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Entrevistar é mais do que perguntar

Por Rosana Nunes e Adriana Gallão

Sabemos que, nas entrevistas, o entrevistador faz perguntas a um entrevistado com o objetivo de obter informações, esclarecimentos ou opiniões sobre um determinado assunto, sendo a entrevista uma das metodologias aplicadas em trabalhos de pesquisa científica. É muito utilizada por amplo campo de pesquisas, em especial nas ciências sociais.

Para as crianças, entretanto, não é tão simples; por isso, antes de elaborarem perguntas, os alunos, com a ajuda do professor, se preparam reunindo informações sobre o assunto a ser abordado, para que aja maior interação entre o entrevistador e o entrevistado.

No Fundamental I, os alunos analisam entrevistas anteriormente publicadas em jornais e revistas, com o objetivo de perceber a sua estrutura: título, apresentação, perguntas e respostas.

 

Antes de elaborarem as perguntas, os alunos são convidados a trocar ideias, em duplas ou coletivamente, com a intenção de garantir perguntas pertinentes, sendo esta uma vivência muito potente e desafiante para aprenderem a organizar a forma de perguntar.

Outro desafio é o trabalho com a escuta - o entrevistador precisa estar atento às perguntas para conseguir fazer a regulação e, neste momento, os alunos ainda precisam da mediação do adulto, o que é esperado. Por isso, nos preocupamos mais em trabalhar algumas palavras que ajudam a antecipar o que será respondido: quem, quando, como, onde, por quê. Após compartilharem o que já sabem e o que ainda falta saber, elaboramos o roteiro para a entrevista, acrescentando novas sugestões para, então, realizarem a entrevista. 

Para os alunos do Ensino Médio, que já têm maior experiência, procuramos ampliar o uso das entrevistas como estratégia na busca de conhecimento. Ao propormos projetos de pesquisa, queremos desenvolver diferentes habilidades e competências necessárias para fazer descobertas e produção de conhecimentos. O processo de investigação e a comprovação de um determinado objeto de pesquisa requer mais do que a leitura de livros que trazem informações já construídas.

Professores e alunos aprendem juntos e compreendem que o processo de ensino e de aprendizagem se efetiva na construção ativa e participativa do conhecimento. Pesquisar é, portanto, um importante caminho para se chegar ao conhecimento. É na pesquisa que utilizamos diferentes instrumentos para se chegar a uma resposta mais precisa.

São muitas as estratégias de coleta de dados na pesquisa de campo. Em uma abordagem qualitativa, dentre elas, a entrevista ocupa lugar de destaque. Quando queremos conhecer a história pessoal é importante dar destaque à subjetividade, que fornece elementos que nenhuma outra fonte seria capaz de dar, pois pode revelar sentimentos, significados, simbolismos e, até, a imaginação das pessoas. A riqueza de uma pesquisa com esta metodologia está na importância atribuída às histórias vividas.

"O termo entrevista é construído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter preocupação com algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas". RICHARDSON (1999) p 207.

A história oral passou a ser mais valorizada como método de pesquisa de campo na medida em que pesquisadores constataram que percepções, sentimentos, emoções, valores e visões de mundo não “apareciam” nos dados estatísticos. Assim, muitos pesquisadores começaram a incluir a entrevista como uma estratégia válida para buscar informações.

Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informais, focalizadas, por pautas e formalizadas. O tipo de entrevista informal é o menos estruturado possível. A entrevista focalizada é tão livre quanto a anterior, porém, enfoca um tema bem específico. 

No caso da entrevista estruturada, ou formalizada, ela se desenvolve a partir de perguntas fixas, cuja ordem e redação permanecem para todos os entrevistados. Por possibilitar também o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais.

Em nosso projeto de pesquisa sobre os Movimentos da Humanidade no espaço e no tempo: Imigrantes e Refugiados, os alunos do Ensino Médio realizaram uma série de pesquisas com enfoque nos refugiados que estão agora no Brasil.

Após lermos diferentes textos e documentos, assistirmos a documentários e coletarmos informações em órgãos oficiais como ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), decidimos aprofundar nossos estudos sobre os refugiados em maior quantidade no Brasil e São Paulo: os sírios e congoleses. Além desses dois grupos, incluímos no estudo os haitianos que, embora não sejam considerados refugiados pela legislação, são uma comunidade significativa em São Paulo. 

Para isso, os alunos de todo o Ensino Médio tiveram a opção de se inscrever em um dos três diferentes grupos de estudo, de acordo com seu interesse, para aprofundar seus conhecimentos. Entre outras atividades e metodologias de pesquisa, adotamos a entrevista como uma forma importante de saber mais sobre as causas que motivaram a saída dos seus países de origem, a escolha do Brasil como destino e, principalmente, perguntar como são recebidos pelos brasileiros. 

Tínhamos uma hipótese inicial, baseados no senso comum e em relatos de refugiados que nos visitaram e fizeram palestras, de que os brasileiros são muito receptivos e cordiais com os estrangeiros. Porém, essa receptividade só é oferecida aos brancos e aos que trazem investimentos. Já os refugiados negros e pobres, mesmo sendo capacitados profissionalmente, sofrem com o racismo e o preconceito.

Organizamos um roteiro de entrevista com a intenção de perguntar, ao maior número de refugiados, se nossa hipótese se comprovaria e também para conhecer as emoções, expectativas e sentimentos dessas pessoas que passaram por uma mudança de vida tão significativa e impactante. 

Visitamos, entre outros lugares, a Missão da Paz e Casa do Migrante, na Liberdade. Hoje, 90% dos acolhidos ali são imigrantes e/ou solicitantes de refúgio.



Os resultados dessas entrevistas e tantas outras reflexões e estudos sobre o tema serão apresentados na nossa Exposição anual.

Esperamos por vocês!

Leia também no nosso blog: 

Entrevista: uma situação comunicativa com muito significado