quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Estudo do Meio como metodologia para leitura afetiva de uma determinada realidade

Por Adriana Gallão

“Hum, esse perfume me lembra da viagem de estudos!” comentou uma aluna do 9º ano.
Quem não se lembra de uma viagem de estudos, uma excursão, um passeio pedagógico ou qualquer outro nome que se dê ao bom e conhecido Estudo do Meio? Com certeza são muito marcantes as lembranças que mantemos de nosso tempo de escola!
Esse modo de aprender, vivendo e experimentando o conhecimento, faz toda a diferença. É um dos momentos perfeitos para relacionar os saberes da sala de aula aos seus significados concretos e passar a fazer sentido para o estudante.

Segundo Schot (1) , “o estudo do meio (aula-campo) permite ao aluno ver de perto, na escala real, na observação direta, e perceber, por meio da paisagem e do lugar, como acontece o espaço.” [...] “trata-se de um jeito diferente e bem mais eficiente de estudar; envolve o incentivo à investigação; a utilização de recursos diferentes e mais motivadores do que o livro didático”. 

Acreditamos que o estudo do meio tem seu valor na apropriação dos sentidos de forma ampla e natural, quando o sentir, o enxergar e o ouvir tornam-se relevantes e, assim, consequentemente, se transforma o ensino no meio onde quer que se esteja. Ou seja, o incentivo à utilização dos sentidos é o que torna esse estudo de campo mais interessante, pois, com essa situação, outros valores serão dados a esta prática.

[...] sem pré-julgamentos ou preconceitos: liberar o olhar, o cheirar, o ouvir, o tatear, o degustar. Enfim, liberar o sentir mecanizado pela vida em sociedade, para a leitura afetiva que se realiza em dois movimentos contrários – negar a alienação, o esquema, a rotina, o sistema, o preconceito – e afirmar o afeto da comunidade e da personalidade (PONTUSCHKA (2) , 2006, p. 12).

A realização dos Estudos do Meio, em todos os níveis de ensino, mas particularmente na educação básica, torna mais significativo o processo ensino-aprendizagem e proporciona o desenvolvimento de um olhar crítico e investigativo sobre a aparente naturalidade do viver social.

Esta atividade pedagógica se concretiza pela imersão orientada na complexidade de um determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo com o mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos conhecimentos.

Com esse objetivo mergulhamos em uma vivência prática para conhecermos as propostas da Permacultura, com especial destaque ao projeto de Sistema Agroflorestal (SAF) como alternativa ao modo convencional da produção agrícola na Região Centro-Oeste do Brasil.

Em nossas aulas magnas conversamos sobre os impactos ambientais nos biomas do Cerrado e Pantanal e percebemos que os principais geradores da maior parte desses problemas são as técnicas agrícolas empregadas nas regiões causando desmatamentos, uso intenso de fertilizantes químicos e agrotóxicos em monoculturas para exportação.

Como forma de restabelecer e recuperar o equilíbrio do solo, do clima, da vegetação, dos rios e aquíferos do centro-oeste, estudamos projetos e técnicas utilizadas em diversos estados do Brasil, baseados nos princípios da Permacultura como o Projeto IPOEMA (http://www.ipoema.org.br/) e a Agenda Götsch (http://agendagotsch.com/) com suas iniciativas em Goiás.

Para conhecermos esses sistemas e técnicas de perto e na prática, visitamos, com as turmas dos 6º ao 9º ano do Fundamental 2, o Sítio Olho D’água (http://www.sitioolhodagua.net/site/) e, com os alunos do Ensino Médio, da 1ª à 3ª série, a Fazenda Atalanta (http://www.fazendaatalanta.com/).  Em ambos os lugares, os alunos vivenciaram o manejo e a implantação de uma agrofloresta. Cada um teve a oportunidade de semear, aprender como proteger os solos, como organizar a plantação dentro de um sistema agroflorestal, além de experimentar novos sabores do centro-oeste, aprender a fazer uso de raízes e plantas da região, comparar dois biomas, a Mata Atlântica e o Cerrado, e entrar em contato com técnicas sustentáveis de se viver.

Além de todas as atividades, os alunos dos 8º e 9º anos entrevistaram os moradores e monitores do sítio para entender as motivações daquelas pessoas em viver uma nova realidade, tão diferente do nosso cotidiano urbano.




Para registrar e organizar todos esses novos saberes e conhecimentos, os alunos receberam um caderno de campo que foi preenchido in loco. 

O caderno de campo é uma ferramenta que registra o espírito investigativo e crítico. Trata-se de uma feliz oportunidade de desenvolver, nos alunos, hábitos e procedimentos de pesquisa, tais como: a observação orientada, o registro de dados e informações mais sistematizados e, até mesmo, de suas impressões mais pessoais sobre a realidade. Além de anotações, esquemas, croquis e desenhos, no caderno de campo, os alunos foram motivados a utilizar o celular como um aliado do estudo, para fotografar, gravar vídeos e as entrevistas.

 

De volta e com todas as informações coletadas, continuamos nossos estudos comparando e completando as anotações das atividades, escrevendo relatórios e trocando fotos e impressões sobre o estudo do meio.

Agora que já sabemos e conhecemos o assunto, estamos em plena produção dos trabalhos para a exposição desse ano, que será nosso maior desafio: apresentar os resultados de nossos estudos por meio da linguagem artística. 

Esperamos vocês para conferir!

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(1) - SCHOT, A. P. ET AL. O estudo do meio ambiente – ir ver o que não se aprende nos livros. Revista Práticas de Geografia, Rio de Janeiro, v.1, n.1, 2004. 

(2) - PONTUSCHKA, N. N. Estudo do meio e ação pedagógica. IN: ENCONTRO NACIONAL DE
GEÓGRAFOS, 14., 2006, Rio Branco, AC. Anais ... Rio Branco, AC, 2006.