quarta-feira, 29 de junho de 2016

Expedição Centro-Oeste: explorando o Pantanal e o Cerrado brasileiro nas aulas de Ciências

Por Sayuri Katia Iko e Simone Violante

O Pantanal – declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO no ano 2000 – é o mais recente assunto das aulas de Ciências do 6º ano. A maior planície alagável do planeta é também o menor dos biomas brasileiros, mas apresenta uma grande variedade de espécies. Sua importância, entretanto, não se restringe à biodiversidade.

É justamente para esses outros aspectos do Pantanal que os alunos do 6º ano voltam agora sua atenção. Eles começaram a investigar como os ciclos de enchentes e vazantes regulam o fluxo e a qualidade da água na região e influenciam o clima local. Compreender a complexa teia alimentar ali presente, a maneira como ela mantém a biodiversidade do bioma e conhecer as ameaças que pairam sobre ele também são objetivos desse trabalho.

O tuiuiú, Jabiru mycteria, é a ave símbolo do Pantanal Mato-grossense

O Cerrado é o bioma pesquisado pelos alunos do 7º ano. Quando pensamos nesse ambiente, logo imaginamos algumas árvores baixas, de aspecto tortuoso, espalhadas em meio a muitas gramíneas. Podemos também relacioná-lo a pastagens e grandes áreas de cultivo de soja. Porém, o Cerrado é bastante diversificado e apresenta desde campos abertos até formações florestais. É com um olhar mais atento, como se estivessem munidos de uma lente de aumento, que os alunos estão estudando essa vegetação. Eles já puderam constatar que o bioma apresenta um mosaico de paisagens e, portanto, não é uma imensa e homogênea savana. 

Ipê amarelo, Tabebuia alba: árvore símbolo do Brasil, é também encontrada no Cerrado

O Cerrado é o segundo maior bioma do país. Considerado o “berço das águas”, ele já perdeu uma boa parte de sua cobertura vegetal. Esse fato despertou em nossos alunos o interesse pela forma como ocorreu sua ocupação e é explorado atualmente. Outro dado que chamou a atenção deles foi o clima do Cerrado, marcado por temperaturas máximas elevadas e por um inverno extremamente seco. Por isso, as adaptações das plantas às condições da região também serão pesquisadas.

Os alunos do Ensino Médio retomam a caracterização dos principais biomas brasileiros quanto à localização, formação vegetal, fauna e clima, abordando também outros aspectos destas duas ecorregiões. 

 
Nossos alunos do Ensino Médio na seção Biomas durante a visitação ao Museu Catavento em maio/2016

Um destes aspectos é ampliar o estudo da formação única do Pantanal a partir das contribuições das províncias biogeográficas circundantes, como o Cerrado, a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e o Chaco. 
O objetivo é conhecer a composição da comunidade biológica pantaneira formada pela interação entre estes ecossistemas e entender melhor as chamadas zonas de transição.

Comparado a outros biomas brasileiros, o Pantanal ainda tem uma grande área preservada: cerca de 80% de sua formação original. Mas, nem por isso deixa de enfrentar problemas ambientais.  Só perde para a Mata Atlântica em número de animais ameaçados de extinção. A extração de minérios da região ao norte é responsável pela contaminação dos rios por metais pesados. O uso de agrotóxicos nas plantações de soja também compromete as águas.

Os estudos dos processos biogeoquímicos levam à compreensão da dinâmica local e orientação de formas de manejo mais adequadas, o que significa manutenção da sustentabilidade ambiental, ou seja, da conservação dos recursos naturais da região.

Pegando carona neste tema, outro aspecto abordado nas aulas é o agronegócio relacionado à sustentabilidade econômica e ambiental. 

Até meados de 1960, as atividades agrícolas no Cerrado eram limitadas e direcionadas à produção extensiva de gado de corte, porque os solos eram de baixa fertilidade para a produção agrícola. Porém, graças à irrigação e às técnicas de correção e adubação dos solos, atualmente há principalmente produção de soja, de milho, de arroz e de café. A cultura da soja, por exemplo, representa 59% da produção nacional. 

Com estes dados, os alunos iniciaram suas pesquisas sobre o cultivo de soja transgênica, constituição química e perfil dos solos, uso de defensivos agrícolas e agricultura alternativa orgânica. 

Cultivo de soja em Mato Grosso

Neste ano, o estudo dos dois biomas ganha destaque por estar inserido no projeto “Viagem ao centro do Brasil”. Essa investigação está sendo feita por meio de imagens, textos e documentários. Porém, não se limita à assimilação de dados técnicos. O compromisso com a conservação do meio ambiente tem também um forte componente afetivo, que deve ser sempre levado em consideração. Quando estudos como esse ocorrem, valorizamos o envolvimento que nossos alunos demonstram ter com as questões relativas à proteção da natureza, pois, quando se trata desse assunto, gostar é tão importante quanto conhecer.

Em um país com tantas riquezas naturais, a educação ambiental tem uma enorme importância. É nas aulas de Ecologia que os alunos adquirem as informações que permitem defender a conservação do meio ambiente e o uso sustentável de seus recursos com conhecimento de causa, e é também, ao longo desse percurso, que se encantam com a natureza.