quarta-feira, 1 de abril de 2015

O que é empatia para você?

O que os pais podem fazer para criar seus filhos com a capacidade de sentir empatia?

Por: João Mendes de Almeida Jr.

Estas foram as perguntas feitas aos pais durante as reuniões do Ensino Fundamental 2 e do Ensino Médio com o objetivo de estimular a participação e a discussão do tema das relações e dos conflitos que tem surgido de forma cada vez mais marcante no universo das relações escolares. Algumas das respostas obtidas estão em destaque no texto.

A escola é um lugar privilegiado para o exercício da convivência respeitosa. Não podemos idealizar uma convivência neste ambiente com a total ausência de conflitos, uma vez que aqui se encontram, diariamente, centenas de pessoas tão diferentes entre si. Porém, se bem conduzidos, os conflitos são uma oportunidade de crescimento pessoal importante. Cabe, portanto, às instâncias educadoras formais – escola e família – ensinarem nossos jovens a resolverem os conflitos que surgem nas relações interpessoais de maneira a buscar sempre o consenso a partir do respeito pelo sentimento do outro. Quando não se considera o outro na solução dos próprios problemas de convivência, corre-se o risco da desumanidade.


Por trás da maior parte dos conflitos que surge no cotidiano escolar – sobretudo entre os adolescentes – e também fora dos muros escolares, está justamente a falta de empatia. É praticamente na escola, hoje em dia, que crianças e adolescentes são confrontados com a presença do outro, do diferente, fora da proteção familiar. Frutos de uma sociedade que preconiza comportamentos egocentrados e egoístas, crianças, adolescentes e jovens têm cada vez mais dificuldade de perceber e respeitar os limites do próximo. Reside aí uma das maiores dificuldades no trabalho da orientação educacional nos dias de hoje.

Empatia está relacionada a uma sensibilidade das pessoas para perceber o mundo para além de sua perspectiva individual.  Essa sensibilidade também diz respeito a reconhecer sentimentos, afeição, experiências comuns a todos.  Acho que buscar sempre dar exemplos é o que os pais podem fazer. (Pais do 7º e 8º anos)
Empatia é poder se destacar para o lugar do outro. Tentar imaginar uma experiência do ponto de vista do outro, considerando o contexto em que se está inserido, crenças, valores, hábitos, etc. Acho que em 1º lugar devemos estimular nossos filhos a perceber que o que sentem, pensam e observam não é a única maneira. (Pais do Ensino Médio).

Como estímulo para a participação dos pais nas reuniões e para estimularmos o debate, exibimos dois vídeos selecionados entre os vários que abordam o tema no site de palestras TED. Neles pessoas de diferentes especialidades discutem sobre a capacidade de nós, humanos, enxergarmos o próximo e suas necessidades, de compartilharmos o que é nosso e sobre nossa capacidade de sentirmos compaixão.

Links:

Frans de Waal – “Comportamento moral em animais” - Empatia, cooperação, justiça e reciprocidade -- se importar com o bem estar de outros parece ser uma característica muito humana. Mas Frans de Waals nos mostra vídeos surpreendentes de testes comportamentais, sobre primatas e outros mamíferos, que demonstram quantas características morais compartilhamos. 

Sam Richards – “Uma experiência radical em empatia” - Ao mostrar um passo a passo através do processo de pensamento, o sociólogo Sam Richards monta um desafio extraordinário: será que entendemos — não aprovamos, mas entendemos — as motivações de um rebelde iraquiano? E ainda, será que qualquer um pode realmente entender e ter empatia uns com os outros?

Daniel Goleman – “Sobre a compaixão” - Daniel Goleman, autor do livro "Inteligência Emocional", pergunta por que nós não somos mais misericordiosos por mais tempo.

Joan Halifax - A líder espiritual budista Joan Halifax trabalha com pessoas no último estágio da vida (em instituições para cuidados paliativos em final de vida e no corredor da morte). Ela conta o que aprendeu sobre compaixão diante da morte e faz uma poderosa introspecção sobre a natureza da empatia.

Krista Tippett – “Ressignificando a compaixão” - A palavra "compaixão" — normalmente associada a gente perfeita ou à pieguice — se distanciou da realidade. A jornalista Krista Tippett desconstrói o significado de compaixão contando algumas histórias comoventes, e propõe um novo e mais alcançável sentido para a palavra.


Durante os encontros com os pais, expusemos o trabalho realizado pelos tutores e pelos orientadores do Hugo Sarmento, desde o 6º ano até o 3º ano do Ensino Médio, com a finalidade de desenvolver nos alunos uma visão crítica das relações baseadas na empatia, na compaixão, no desenvolvimento do senso de justiça e no respeito ao próximo, reforçando exemplos e atitudes positivas. Definimos alguns temas pontuais escolhidos de acordo com as características de cada faixa etária e que são trabalhados ao longo de todo o ano letivo.

6º ano – Bullying
7º ano – Preconceito
8º ano – Sexismo / Sexting
9º ano – Protagonismo 
Ensino Médio – Uma visão crítica da sociedade e do comportamento humano


Mas, afinal, o que é empatia?

O termo empatia foi utilizado pela primeira vez por E.B. Titchener, psicólogo, e origina-se da palavra grega empátheia, que significa "entrar no sentimento". Para alcançarmos este estágio é necessário deixar de lado nossos próprios pontos de vista e valores para poder entrar 
no mundo do outro sem julgamentos.

Como desenvolver, então, a empatia?

É preciso praticar muito para colocar o sentimento à frente das palavras. É mais do que compreender; é conseguir se colocar no lugar do outro e, por consequência, sentir como o outro. Você se sensibiliza com as dificuldades e o sofrimento, e é isso que te torna mais humano e te possibilita realmente ajudar alguém. Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia e, a partir daí, a compaixão. A pergunta que inicia este processo é “Como eu me sentiria na mesma situação e/ou na mesma condição do outro?”. Quando tenho clareza dos meus sentimentos e consigo expressá-los com segurança, tenho mais possibilidade de sentir pelo outro. 

“Acredito que empatia seja o sentimento e a atitude de se colocar verdadeiramente no lugar do outro, parar para observar, ouvir, estar atento ao outro. Vivemos numa sociedade frenética...mas a convivência precisa ser social, íntegra. Viver em comunidade é desafiador, mas imagino que seja o caminho para tentarmos respirar de forma pura. Acho que o exemplo é tudo, precisamos praticar atitudes empáticas para que as crianças e os jovens tenham e percebam esta ação de perto, ali, no dia a dia.” (Pais de 7º e 8º anos)

Este “treino”, esta prática nos permitirá um novo olhar sobre as relações e a passar a agir, quase que instintivamente, não em função dos outros, mas sempre levando em consideração nossa posição de ser social.