quarta-feira, 31 de julho de 2019

Festa Junina na América Latina: como e por que juntar estes assuntos

Por Marco Pereira

Sabemos que a mistura de elementos indígenas, africanos e europeus caracterizou a formação cultural do Brasil e da América Latina.

No primeiro trimestre, passamos boa parte das nossas aulas de música ouvindo, discutindo e vivenciando o universo sonoro e sociocultural do século XIX e toda a sua complexidade de influências em nossa formação musical.

Muitas das nossas festas populares tiveram origem ou inspiração europeia e passaram por transformações em nosso território, assimilando diversas influências. Se os devotos portugueses e as quadrilhas francesas deixaram sua marca nas festas juninas deste lado do Atlântico, nada permaneceu intacto no caldeirão pulsante de culturas que aqui se criou.

Neste ano, em que a América Latina é tema do projeto da escola no 2º trimestre, incluímos algumas músicas da cultura tradicional desses povos nas nossas pesquisas e apresentações. A ideia foi homenagear e nos aproximar um pouco mais destas tradições sobre as quais conhecemos tão pouco.

E como são as raízes rurais ou regionais dos demais povos da América Latina? Foi este o mote que nos inspirou a buscar uma aproximação e promover este improvável encontro. De nossa pesquisa, nasceu o programa abaixo.

No Fundamental 1:

O 1º e o 2º anos dançaram “Ai que saudade d’ocê”, de Vital Farias, com interpretação de Elba Ramalho.

Em seguida, também apresentaram uma coreografia para a música peruana “Pandillero”. O termo “Pandillero” alude à pandilla, uma dança típica da região de Puno que mistura elementos espanhóis, franceses e indígenas.

A interpretação é dos Niños Sicuris da Juventude Obrera de Puno, com letra em Quechua e castelhano.

Sicuris é o nome do conjunto de tocadores de sicu, que é uma flauta feita com canos de bambu, cuja origem remonta aos instrumentos tubulares pré-colombianos. Os Niños Sicuris fazem parte de uma escola de Sicuris que tem como objetivo manter vivas as tradições do povo de Puno.

https://www.youtube.com/watch?v=w064FxjM9PQ&list=RDDyOt5KIvNyw&index=3


O 3º ano dançou um mix de “Chegança”, de Antonio Nóbrega, com “A Vida do Viajante”, de Luis Gonzaga e Hervé Cordovil. “A Vida do Viajante” é bem conhecida e dispensa apresentações. "Chegança" enaltece os povos indígenas brasileiros e alude de forma crítica ao momento da chegada dos portugueses e à criação do Brasil. Importante notar que “chegança” é também o nome de uma das variações dos autos de marujos, tradicionais na região nordeste, na qual Nóbrega se inspira.

Em seguida, a turma dançou a Cumbia “Aguacero em Mayo”. Cumbia é um gênero musical tradicional da Colômbia. A interpretação é de Totó La Momposina, cantora de grande prestígio na tradição colombiana e considerada uma das mais importantes representantes da música de sua costa caribenha. O parágrafo a seguir foi retirado de seu site oficial:
“La cumbia es uno de los ritmos y danzas de Colombia más conocidos. Este ritmo es poderosamente hipnótico y junto con la danza e su traje, un buen ejemplo de la mezcla de influencias indias, españolas y africanas.”  

https://www.youtube.com/watch?v=goTo4yNHXWM&list=RDDcos-vaMGdg&index=18


4º e 5º Anos: Estas turmas dançaram o xaxado “Mulher Rendeira”. Embora a canção tenha se notabilizado na versão registrada por Zé do Norte, sua autoria é controversa. Alguns sustentam que teria sido originalmente composta por Virgulino Ferreira - o Lampião - com a ajuda de “Volta Seca” - um cangaceiro de seu grupo - em homenagem ao aniversário da avó de Lampião, Maria Jocosa. Outros, dizem que já era cantada pela tradição oral muito antes de Lampião. A gravação que vamos ouvir é a do “Trio Nordestino”, um grupo tradicional de forró.

Em seguida, apresentaram “a chilena” “Las Amarillas”. “La Chilena” é uma dança mexicana da região de Guerrero, na Costa Chica. Seu nome se deve à sua origem, o Chile.

“Los sones del estado de Guerrero son alegres y vistosos ya que son representativos de los diferentes sones del estado. Estos sones se bailan en las fiestas tradicionales del patrono del pueblo e en los fandangos de tixtlade guerrero tambien en las diferentes bodas y cumpleaños. Alegria, fiesta y algarabia son los elementos de los bailes tradicionales de Mexico.”

“(…) Los danzantes pone énfasis en pasos fuertes y rítmicos que muchas veces forman acompañamiento de percusión de la música. Las danzas de Guerrero se pueden reconocer por los pañuelos volantes que son una gran parte de los movimientos de los danzantes.”

https://open.spotify.com/album/6RYN44BhygLGUrDUjmNA6u


No Fundamental 2, a escolha das danças e os ensaios aconteceram nas aulas de Educação Física.

O 6º e o 7º anos apresentaram “Lelê Maculelê” e a música cubana “Oye el Consejo”.
Maculelê é uma dança tradicional que mescla elementos afro-brasileiros e indígenas, evolução de uma arte marcial que se preserva na dança com bastões que se golpeiam.


Depois dançaram novamente ao som de  “Oye el consejo”,  uma canção do cantor Ibraim Ferrer, que aos 69 anos integrou o Buena Vista Social Club, grupo de veteranos que se notabilizou internacionalmente tocando música tradicional cubana no final dos anos 1990 e inspirou o documentário homônimo de Wim Wenders.

“Oye el consejo” foi interpretada por “Los Gayberos de Cuba”.



O 8º e o 9º anos apresentaram o forró “Oh chuva” do grupo Falamansa e “Me quedo contigo”, uma Salsa cubana, ou um son “moderno”, de acordo com seu autor Leoni Torres.

O son é um gênero musical tradicional de Cuba que surgiu no fim do século XIX, diferente da salsa, que apareceu em meados dos anos 1960. Há semelhanças, mas também diferenças, entre elas a maior “velocidade” da salsa. O espírito do son está presente na origem da salsa e também do mambo.

https://youtu.be/Veeu7KSsZ4c
https://youtu.be/Q0wyQKlCKrM


A tradicional quadrilha ficou para o Ensino Médio. O que não foi tradicional foi o casamento, pois os alunos e alunas quiseram representar a diversidade afetiva trocando os pares hétero pelos pares homoafetivos.


Assim, as tradições vão se modificando e se mesclando em um mundo tão plural e diverso como o que vivemos agora.


Em nosso país e sobretudo na região sudeste, as festas juninas adquiriram uma ligação com a cultura rural, encontrando representação nas músicas regionais e na cultura caipira. A música caipira, a viola, a figura do homem do campo se firmaram como tradição. As caricaturas e estereótipos do homem do campo também acompanharam esta tradição e são ainda presentes e alvo de críticas pertinentes neste tempo de revisão de tudo em que vivemos.

Tivemos ainda a participação da dupla Alvimar e Zé Trabuco, num momento divertido e inteligente.

Assim, as festas juninas são uma oportunidade para rever, valorizar as raízes rurais e regionais e ampliar nossos conhecimentos.

 

Agradecemos a todos que participaram da festa e esperamos que todos tenham gostado!

Bibliografia para quem quiser saber mais!

https://www.scribd.com/document/205507879/APUNTES-PARA-LA-HISTORIA-DEL-SIKURI-PERUANO

https://diariocorreo.pe/edicion/puno/ninas-y-ninos-sicuris-de-puno-estrenan-tema-en-quechua-video-867539/

https://www.facebook.com/PunoCultura/

http://canteradesonidos.blogspot.com/2007/05/reivindicacin-de-la-pandilla-y-la.html

https://es.wikipedia.org/wiki/Sicuri

https://www.deperu.com/abc/danzas-peruanas/5812/la-pandilla-punena

https://www.totolamomposina.com/biography/?lang=es

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulher_Rendeira

http://melodiasantigas.blogspot.com/2012/07/mulher-rendeira-musica-do-famoso.html

http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/mapeamento-cultural/cultura-popular/folguedos-dancas-e-tores/folguedos-natalinos/cheganca/cheganca-silva-jardim

http://www.museudagentesergipana.com.br/wps/wcm/connect/Museu%20da%20Gente%20Sergipana/inicio/largo-da-gente-sergipana/esculturas/cheganca/cheganca

Las Amarillas

https://prezi.com/g0dix_r8wgyv/las-amarillas-guerrero/

http://www.mediatecaguerrero.gob.mx/todo-guerrero/la-chilena-guerrero/

Las Amarillas Ballet

https://www.youtube.com/watch?v=ihnm0vfn3uU


México – Las Amarillas com Ensamble Folklorico de Veracruz

https://www.last.fm/music/Ensamble+Folklorico+de+Veracruz

https://open.spotify.com/album/6RYN44BhygLGUrDUjmNA6u


Las Amarillas Grupo Nahucalli
https://www.youtube.com/watch?v=ptORRhuW_Vg

Las Amarillas com Los Lobos
https://www.cifraclub.com.br/los-lobos/419956/letra/

Las Amarillas com Coro Europeu
https://www.youtube.com/watch?v=okP4jH8a_kw

https://brasilescola.uol.com.br/detalhes-festa-junina/origem-festa-junina.htm

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-surgiram-as-festas-juninas/

http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2016/06/como-nasceu-tradicao-da-fogueira-da-festa-junina

https://www.suapesquisa.com/musicacultura/historia_festa_junina.htm

https://www.mundodadanca.art.br/2011/03/marujada-danca-folclorica-do-para.html

https://www.historiadealagoas.com.br/cheganca-e-fandango-herancas-ibericas-no-folclore-alagoano.html

http://culturadigital.br/mincnordeste/2018/08/01/bahia-vi-encontro-de-chegancas-da-bahia-acontece-nos-dias-04-e-05-de-agosto-em-saubara/

http://www.terrabrasileira.com.br/folclore/g19-chegan.html

http://marujadadesaubara.org.br/marujadas/o-que-sao/

https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/grupos-culturais-revivem-a-tradicao-das-marujadas-e-chegancas-no-reconcavo/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maculel%C3%AA

http://www.buenavistasocialclub.com/

https://en.wikipedia.org/wiki/Ibrahim_Ferrer

http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/buena-vista-social-club

https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,cubanos-do-buena-vista-social-club-dizem-adeus-em-sao-paulo,70002305397

https://en.wikipedia.org/wiki/Son_cubano#Early_20th_century

https://en.wikipedia.org/wiki/Son_cubano

http://www.justsalsa.com/salsa/music/son/

https://la-candela-salsa.de/what-is-the-difference-between-salsa-and-son/

quinta-feira, 11 de julho de 2019

E, com vocês, o Intervalo Musical! Protagonismo dos nossos alunos.

por Siça Arruda - Orientadora Educacional

Estamos vivendo em meio a muitas reflexões sobre a Educação e o modelo convencional  de educar.
A BNCC - Base Nacional Comum Curricular sugere que a Educação Básica brasileira venha contribuir, refletir e orientar no real sentido a preparação das novas gerações para que  construam uma sociedade melhor. Assim, a formação deve visar o desenvolvimento integral dos alunos, para que sejam cidadãos atuantes em valores ligados a ética, democracia , responsabilidade, inclusão, sustentabilidade  e solidariedade.
No nosso âmbito escolar, onde o Projeto Pedagógico já é consolidado na Educação Humanista, acreditamos na promoção do desenvolvimento de crianças e jovens em todas as suas dimensões: cognitiva, física, emocional, social e cultural. Esse direcionamento implica que, além dos aspectos pedagógicos, oferecemos práticas pedagógicas que favoreçam  a amplitude da  capacidade dos alunos em lidar com suas emoções, autoconhecimento, bem estar e relacionamentos interpessoais, criatividade, exercício da cidadania e experiências culturais.
O foco é não somente na transmissão de conteúdos, mas também na construção de relações entre os conhecimentos, desenvolvimento de competências e no protagonismo e engajamento dos alunos.
Para entender melhor esses conceitos: competência é a soma dos saberes adquiridos, habilidade é a capacidade de aplicação desses saberes na vida cotidiana e atitude seria o desejo para usar os conhecimentos e habilidades e, por último, mas não menos importante, vem os valores, que são a aptidão para utilizar os conhecimentos, habilidades com base em princípios universais.
A escola propicia o espaço coletivo onde os alunos, em sua rotina, aprendem sobre si mesmos, convivendo com um outro. Com certeza são experiências significativas que vão além dos conteúdos programáticos. A Base reforça que os alunos sejam protagonistas de seus próprios aprendizados, tendo cada vez mais a participação nos processos de aprendizagem. 
E o que é protagonismo? A palavra protagonismo vem de “protos”, que em latim significa principal, o primeiro, e de “agonistes”, que quer dizer lutador. Podemos definir, a partir desse significado, como a capacidade de enxergar-se como alguém autônomo, ativo e comprometido socialmente em atividades que vão além dos seus interesses individuais, expressando iniciativa e autoconfiança. O aluno protagonista sabe que pode buscar aprender e encontra as diferentes estratégias dessa apropriação, não apenas individualmente, mas agindo de forma  participativa e cooperativa no ambiente escolar.
Com essa convicção de abordagem educacional, é que o momento do Intervalo Musical vem sendo oferecido há muitos anos aqui no nosso colégio, bem antes das indicações da BNCC. Assim como outras atividades, é um espaço dedicado ao protagonismo dos alunos ligados à liderança, respeito, empatia, responsabilidade comunitária, capacidade de tomar decisões, criação, exercício da cidadania e estímulo ao projeto de vida com planejamento do estudante para o futuro.
A preparação do Intervalo Musical é tarefa dada aos alunos do 9º ano. São eles que incentivam a participação dos demais. Como é um intervalo especial que acontece uma vez por mês, sempre na última sexta-feira, tem uma duração mais estendida e conta com a participação e encontro de alunos do 6º ano à 3ª série do Ensino Médio.
A turma do ano passado tinha muita facilidade em lidar com a tecnologia e mixagens de músicas, além da criatividade de apresentação. Chegaram a montar, em um intervalo, uma Rádio, pesquisaram sobre várias atividades e projetos trabalhados desenvolvidos nas diferentes séries e foram contando ao vivo as atividades da escola, depois faziam as propagandas intercaladas com as músicas escolhidas antecipadamente. Ao final do ano, fizeram um microfone em tamanho gigante e passaram para a turma do 8º ano, como forma de convite à responsabilidade. Foi uma surpresa para todos!
Embora receba o nome de Musical, vale ressaltar que são valorizadas as diferentes linguagens e expressões artísticas e culturais e todos que querem podem  participar. É realmente um momento de encontro, alegria, descontração e cultura.
Cada grupo responsável por preparar esse intervalo tem suas características e formas de organizá-lo. O repertório é cuidadosamente selecionado. Nesse palco já tivemos vários talentos como cantores (individual ou grupo), dançarinos, leitores (seja de texto autoral ou de autor escolhido), apresentações com instrumentos, atividades em espanhol e inglês, recital de poemas, entre outros.
 
 
 
Neste ano, a turma encarou com vontade o desafio, prometendo desde o início que seriam intervalos inesquecíveis. O desejo de trazer novidades também trouxe uma necessidade maior de organização e integração. Elaboraram um quadro que ficou afixado no mural da sala com as datas mensais já escolhidas para as apresentações. Fizeram as divisões por funções que podem ter rodízios, favorecendo a participação de todos os integrantes da turma pelas suas preferências e habilidades, como também propiciar a experiência de se descobrir numa função nunca antes vivenciada.
Existem os grupos: do SOM, encarregados da instalação do microfone, caixas, baixar músicas, telão e palco; da DECORAÇÃO, fazem o cenário de acordo com o tema; da DIVULGAÇÃO, passam por todas as salas para falar sobre o tema e estimular a participação dos outros alunos, fazer a inscrição, seleção e acompanhamento dos ensaios dos alunos das outras séries; dos APRESENTADORES, são os que apresentam o intervalo propriamente dito; dos ORGANIZADORES, fazem a organização do script escrito para os apresentadores com as falas e contextualização do tema; de APOIO, que estimula a platéia na hora do intervalo, auxilia na resolução de eventuais problemas no momento da apresentação e a desmontagem do palco e decoração… Essas funções e grupos são escolhidos por eles mesmos de acordo com a necessidade.
  
  
Além disso,essa mesma turma do 9º ano resolveu incrementar a atividade com Intervalos Musicais Temáticos. Este ano já foram realizados com os temas do “Carnaval”, “Mulheres”, “Brega”, “América Latina”, “Sertanejo” (Festa Junina e Dia dos Namorados) e o próximo, em agosto, já tem nome escolhido: "As músicas que marcaram a história” (diferentes gêneros).

Normalmente alguns alunos participam e se sentem à vontade em repetir a experiência; a ideia é que outros alunos possam aproveitar esse espaço. É um momento muito gostoso de interação e, embora tenham idades diferentes, existe um clima de respeito, admiração e envolvimento pelo outro. A plateia é sempre respeitosa e incentivadora, todos se acomodam para apreciar e aplaudir. 


Embora seja um momento de protagonismo dos alunos, a participação dos professores traz uma aproximação afetiva que eles adoram. Ficam realizados ao verem, por exemplo, o professor de história cantando, o de matemática tocando violão junto com a professora de português do outro segmento, outros tocando pandeiro ou caracterizados. Os professores são a referência e também o encorajamento para que outros alunos se arrisquem. 
 
 
       
E esse é mais um momento em que a escola propicia a interação de todos. Desta forma, há o protagonismo e o incentivo ao relacionamento de mais proximidade entre jovens e adultos, em que o adulto deixa de ser um mero  transmissor  de conhecimentos para ser um parceiro, um colaborador, um incentivador e um modelo. Assim, o aluno se apropria do conhecimento e da experiência em si, com referências positivas, com um olhar coletivo e plural.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Hora do brincar: território da convivência

Por Laís Henriques e Lígia Calandro Mendes

O ato de brincar faz parte da história da humanidade ao longo dos tempos. Está registrado nas imagens, nos textos literários, nas memórias...


A Semana Mundial do Brincar foi uma iniciativa criada para celebrar o brincar livre como um meio de incentivar o desenvolvimento das crianças e uma forma de permitir que as crianças ampliem sua criatividade e imaginação. Embora seja uma data simbólica, aqui na escola procuramos garantir a diversidade de momentos de brincadeira durante todo o ano.

Entendemos que o brincar é o modo que as crianças têm de se relacionar com os outros e com o mundo, e que a escola pode e deve proporcionar e ampliar essa relação. Por meio da brincadeira a criança se socializa, experimenta possibilidades, cria e lida com emoções.

O brincar amplia o convívio social, pois a criança vivencia diversos papéis nesta hora, o que garante o seu desenvolvimento integral (biológico, cognitivo, moral, emocional, cultural e afetivo)  Enquanto brinca, comunica e elabora seus sentimentos, medos e desejos.

Por isso, acreditamos e valorizamos a brincadeira em diversos momentos da rotina escolar. Os alunos esperam ansiosamente  a hora do recreio para encontrar colegas de outras salas, para correr, escolher brincadeiras, interagir, conversar sobre diferentes assuntos e colocar em prática as brincadeiras planejadas e inventadas. 

“Eu gosto de ouvir as crianças conversando, porque elas são absolutamente como os poetas. Não conhecem obstáculos à sua imaginação.”
Cecília Meireles

A possibilidade de ouvir as crianças, tal como Cecília Meireles coloca, consolida-se, a nosso ver, como um desafio para as relações que se estabelecem entre alunos. Dessa forma, acreditamos que a criança deve ser o sujeito da sua própria brincadeira. 


Para a brincadeira acontecer de forma livre e variada, procuramos  disponibilizar diferentes materiais, como bolas, cordas, perna de pau, tecido, elementos da natureza, giz para riscar amarelinha, entre outros. Um tecido pode se tornar uma cabana, uma capa, um cobertor e o que mais ela quiser criar na hora da brincadeira com seus amigos.

Os espaços escolhidos para as brincadeiras são diversos: a quadra, a areia, o coreto e o morro. Ah, o morro! Esse espaço do colégio é, sem dúvida, o preferido e o mais encantador para os alunos. É lá que acontecem brincadeiras de todos os tipos e gostos, é onde colocam a mão na terra, abraçam as árvores, desenham com giz nas paredes e se encantam com os bichinhos de jardim e os passarinhos.

No dia a dia brincam de pega-pega, pular corda, bambolê, futebol, basquete, casinha, cabana e entre outras criadas por eles, também representam o cotidiano, o que estão aprendendo nos projetos de modo muito criativo.


É visível a interação entre os diferentes anos, que nesse momento dividem o espaço em diversas brincadeiras, no futebol e em outros jogos, dividindo o time, além das brincadeiras inventadas por eles, “paredão”, “turma da Mônica”, entre outras.  

Nesse momento ficamos atentas às diversas brincadeiras escolhidas pelas crianças e mediamos suas relações, ajudando a ampliar as competências socioemocionais ao lidarem com diferentes opiniões, resolvendo os seus conflitos e frustrações.

Enquanto acompanhamos, observamos e interagimos com todos, mas também nos divertimos muito!

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Quatro bibliotecas, quatro histórias, quatro tesouros...

Biblioteca de São Paulo, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Biblioteca Mário de Andrade e Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Por Gaby Vignati, Eloisa Liebentritt, Gabriela Duarte e André Judice


Neste trimestre a equipe pedagógica do colégio fez um convite especial aos alunos para conhecer diferentes bibliotecas públicas espalhadas pela cidade de São Paulo.

Conhecer a história da biblioteca, a arquitetura, o acervo, o modo como os livros estão dispostos, o seu público, revela a identidade do lugar e nos transporta para novas possibilidades. Concomitantemente, o propósito de tornar a relação dos alunos com a literatura cada vez mais prazerosa fez parte da intenção do convite da visita à biblioteca. 

As turmas do 4º e 5º anos fizeram, no último dia 27, uma visita à Biblioteca de São Paulo, situada em uma área revitalizada da cidade, o Parque da Juventude. Neste lugar, onde antes havia um presídio marcado por um massacre, surgiu uma biblioteca modelo. Parece até ironia, não é mesmo?

Um prédio moderno com paredes de vidro, decorado com pufes coloridos, muitas atividades, não é um espaço somente de leitura e estudo, mas também de convivência, uma praça cultural.


“A biblioteca era muito diferente das outras, ela tinha computadores, videogames, espaço para jogar bola, mesa de ping-pong...” Diego, 4º ano


“O prédio é muito bonito! Todo de vidro...” Pedro A., 5º ano

A visita foi cheia de surpresas, descobertas e encantamento. Já nos primeiros instantes os alunos se surpreenderam com a história do local e depois... Perceberam que aquela biblioteca era diferente, que não precisavam fazer silêncio e outra novidade foi saberem que em um dos espaços podiam jogar em computadores, brincar e participar de diferentes atividades.

Muitos se encantaram com o espaço de acessibilidade, com a máquina de virar páginas de livros, o computador que aumenta letras, que muda as cores para os daltônicos, os livros em braille, os audiolivros. Conhecer os diferentes recursos tecnológicos para atender às pessoas com necessidades especiais foi de grande aprendizado.


“No andar de cima tem máquinas para pessoas com dificuldade em ler e se mexer!” Sofia M., 4º ano

“O que eu mais gostei foi o audiobook porque desse jeito quem não sabe ler pode ouvir a história toda!” João Gabriel, 4º ano


O momento que os alunos mais apreciaram foi o de explorar todos aqueles tesouros chamados LIVROS nos cantos de leitura por faixa etária, deitar nos pufes estrategicamente colocados entre as estantes, manusear os diferentes livros, conhecer novos títulos e a coleção escrita em árabe.

“...Ficamos livres para ler, eu vi um livro de imagens de animais em corpo humano...” Mariah, 4º ano

“...Tem bastante acervo… livros para adultos e crianças...” Beatriz, 5º ano

“É bem legal o lugar, bem grande e bem divertido.” Lara, 4º ano


Foi uma experiência encantadora e todos ficaram com desejo de fazer uma carteirinha de sócio e ser integrante desse universo. Os interessados podem fazer o cadastro na Biblioteca Villa Lobos, que também vale para retirar livros na Biblioteca de São Paulo.
Professora Eloisa Liebentritt - 4º ano

No mundo atual, onde tudo transcorre na era digital, cabe falar da grande importância e do tesouro humano que se tem na Biblioteca. A sua função vai além de ser um “espaço físico em que se guardam livros”, pois nela estão registrados e preservados os conhecimentos da humanidade, como forma de perpetuação de seus pensamentos e descobertas. Ao entrar em uma biblioteca, adentramos em muitos pensamentos e registros. A biblioteca é um espaço sempre atual, em movimento, visto que tornamos vivas ideias e ideais a cada livro aberto, a cada história lida. Por mais antigo que seja um livro, ao abri-lo damos vida às palavras ali contidas, alimentando o imaginário humano.

Com esse propósito, damos grande importância ao incentivo à leitura, ao livro, à biblioteca, buscando aflorar em nossos alunos o gosto pela literatura, onde os pensamentos podem flutuar por diferentes dimensões e sonhos, como também adquirir e descobrir cada vez mais conhecimentos, pois a biblioteca possibilita percorrer tanto o mundo imaginário como o real.

Pensando na importância que damos à biblioteca, no dia sete de março foi a vez de os alunos do 1°, 2° e 3° anos do Fundamental visitarem a biblioteca pública Alceu Amoroso Lima, que fica próxima ao colégio. Ela foi inaugurada em 1979, por meio de uma solicitação dos moradores do bairro de Pinheiros que queriam ter acesso à boa leitura e informação. 

Hoje ela é reconhecida como uma importante biblioteca temática de poesia, pois tem um andar exclusivo que conta com mais de 31 mil volumes de livros de poesia.

A visita à biblioteca foi apreciada por todos os alunos, despertando de imediato o encantamento pelo espaço e pelo acervo ali colecionado. O fato de não ser apenas uma biblioteca, mas também um espaço de atividades teatrais e muitas outras apresentações, também foi motivo de grande interesse. Os alunos puderam presenciar um ensaio de teatro para idosos. Lá também puderam observar pessoas estudando e até mesmo lendo jornal, como forma de preencher a sua “rotina”, como falaram.

Houve dois momentos muito marcantes na visita: a agitação natural de verem um lugar tão colorido e cheio de tudo o que mais gostam, os livros,  ficando sem saber direito por onde começar, o “explorar” transbordava em seus gestos, até o momento da “calmaria”, onde mergulhavam nas histórias e ilustrações dos livros escolhidos. 


Outro momento especial foi quando descobriram os livros para deficientes visuais. Muitos alunos fecharam os olhos para sentir o que estavam lendo. “Isso é Braille e é assim que se lê”, disse o aluno Henrique fechando os olhos  e passando os dedos pelas folhas, mostrando para os amigos.

Familiarizaram-se com os livros de que gostam e que têm em casa, além de se deliciarem com o acervo de gibis e de poesias! Foram, realmente, momentos de muito encantamento.


Em sala, montamos um relato coletivo como fechamento da visita.


Vale a pena conferir!
Professora Gaby Vignati - 2º ano


Que tal conhecer outras bibliotecas da cidade???

Quem não se encanta com o “mundo” dos livros? Você é capaz de “voar” em livros balões? Assista à animação “Livros voadores de Modesto Máximo” e responda a si mesma(o)!!! 


Conversando com os alunos, fizemos uma proposta para que gravassem seus vídeos sobre suas experiências literárias. Eis que nossos leitores/autores jovens de sexto a nono ano trouxeram suas vivências, autores prediletos e dicas, inclusive sobre outras bibliotecas que eu mesma desconhecia! 

Sim, eles são extraordinários! E sim, conseguem perceber o valioso espaço de uma biblioteca!


Em nossas aulas, que antecederam nossa ida às Bibliotecas “São Paulo” e “Mário de Andrade”, levantamos questões sobre este espaço pouco conhecido para grande parte da sociedade, inclusive raro em muitas escolas, mas que nossos alunos valorizam há tempos. Dentro e fora da escola, suas vivências elucidam a biblioteca com familiares e amigos. Há inclusive aqueles que trazem suas opiniões bem formadas: “Bem, Gabi, nem todas as narrativas de que gosto estão nas bibliotecas, mas eu tenho o costume de ir às livrarias com minha família, então, busco meus autores prediletos nelas”. Assim define o aluno Rafael, do sexto ano. Veja o depoimento dele na íntegra:


Sobre escrever no blog, bem… lendo há alguns dias a crônica de Moacyr Scliar “Histórias de mãe e filho”, o autor traz o seguinte relato:

                                                                            
Berel também era um rebelde. Seu sonho era formar-se em medicina; desde criança ele se interessava por doenças, ajudava a cuidar dos enfermos da aldeia. Chamavam-no “o doutorzinho”. Brincadeira? Não para Berel. Quero ser médico, dizia, custe o que custar. Assim, apesar dos pedidos dos familiares, saíra da aldeia, enfrentando a proibição, e fora para a casa de uns conhecidos em Odessa (cidade da atual Ucrânia).
Mas não entrou na faculdade de medicina. Na verdade, nem chegou a prestar exame; o encarregado das matrículas não teve a menor dificuldade em descobrir que ele era judeu e até o ameaçou:
- Volte para a sua aldeia, judeuzinho, ou eu o denuncio para a polícia.
Berel não voltou para a aldeia. Tinha esperança de, no fundo, conseguir entrar na faculdade (o que nunca aconteceu). Ficou em Odessa.
Lá ficou amigo de um rapaz chamado Isaac Babel, que lhe arrumou um emprego de vigia.
Babel, que depois viria a ser um escritor conhecido, introduziu Barel no mundo dos livros. Um mundo do qual ele nunca mais sairia. Tornou-se um leitor apaixonado. Nos livros, ele dizia, realizo meus sonhos. (...)
(SCLIAR, Moacyr. Histórias de mãe e filho. In:_ Contos e Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.).

Essa narrativa, da qual recomendo a leitura na íntegra, e que cativou os alunos na última semana, nos permite pensar sobre esse mundo da leitura tão caro a muitas pessoas e que outras acham inacessível. 

Perguntei aos nossos estudantes se seriam capazes de “voar” em seus livros e saltar para outros mundos em sua imaginação através das literaturas. Em muitos vídeos, alguns disponíveis na Livromania, que ocorrerá em 6 de abril, eles respondem que sim. E há os que desfrutam dessas “viagens” há muito tempo. Será que nós nos permitimos, também, estas aventuras?

Tente!
Professora Gabriela Duarte - Português, Fundamental 2

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

A ida à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin começou logo pela manhã no ponto de ônibus da rua Nazaré Paulista com destino à Cidade Universitária da USP. Embarcamos todos, alunos, professores e coordenação do Ensino Médio no 809U-10 com Bilhete Único ou dinheiro trocado da passagem em mãos para facilitar o trabalho do cobrador, afinal, éramos quase 50 pessoas no transporte coletivo e, além de nós, havia outros passageiros, entre eles muitos estudantes universitários, facilmente identificáveis, pois seguiam com os rostos mergulhados em suas leituras, mesmo com certa agitação provocada pelo nosso embarque.


Começou, assim, a ida ao nosso destino. Mas havia um propósito para isso, pois, antes de embarcamos, um dia antes, cada aluno e aluna escolheu um livro que compunha o antigo acervo da biblioteca do Colégio, para que pudessem deixar pelo caminho a outros leitores, a outros curiosos, a outros estudantes, sobre os assentos do ônibus, no ponto de ônibus, ou entregues em mãos, deixando assim um rastro de conhecimento e de manifestação delicada no gesto de carinho que é doar um livro a quem não se conhece.


Descemos em frente à Biblioteca e nos deparamos com um moderno  edifício, inspirado em conceituadas bibliotecas do mundo, como a Biblioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e a Biblioteca Sainte-Geneviève, de Paris, na França.  É uma atração à parte esse espaço. Ali os alunos conheceram um pouco da história da Brasiliana da USP, ouviram sobre o seu riquíssimo acervo de obras e estudos sobre o Brasil, visitaram uma exposição, foram à livraria e curtiram a cafeteria do mezanino. Tudo em um único espaço de cultura público, aberto à sociedade.



Em uma única manhã de estudos, os alunos e alunas vivenciaram muitas experiências e performaram ao doarem os livros. Mas, o que ficou marcado foi perceber que muitos deles deixavam transparecer o desejo de estarem ali em breve, de se tornarem universitários. Em breve estarão!   


Professor André Judice - Português, Ensino Médio